Já ouvi falar de "tratamento de choque", mas esse aqui é realmente hors concours: a Universidade Ryukyun, do Japão, adotou o tratamento de choque para aumentar os polifenois da batata-doce. Isto porque "o choque aumenta o conteúdo de polifenóis antioxidantes saudáveis em 60%", segundo afirmam os autores da pesquisa em notícia publicada hoje no jornal O Globo online(http://oglobo.globo.com/ciencia/batata-doce-eletrificada-retarda-os-efeitos-do-envelhecimento-5844726#ixzz248tQF9kZ).
Cientificamente falando, polifenois são aquelas coisinhas para as quais há até pouco tempo atrás ninguém ligava, mas que todo mundo agora acha que fazem a maior diferença. É que os polifenois começaram a aparecer massivamente nas publicidades de alimentos, prometendo mundos e fundos para retardar o envelhecimento. Em termos mais leigos, eles são apenas "compostos químicos, encontrados naturalmente em frutas e vegetais, que ajudam a retardar os efeitos do envelhecimento".
Mas, atenção: o tal tratamento de choque tem lá as suas sutilezas: "No estudo, Kazunori Hironaka (principal autor da pesquisa) e os colegas colocam o alimento em uma solução de sal, que conduz eletricidade. Dão um choque, então, por cinco minutos, até chegarem aos resultados, que não afetam em nada o sabor".
Pronto! Prato cheio para os compulsivos-obsessivos com a aparência. Do jeito que o envelhecimento é mote para histeria coletiva aqui no País das Mil e Uma Plásticas, não há de faltar gente colocando sal na água da piscina e indo nadar em dia de chuva, a espera da queda de um raio. Isto tanto é mais verdade para os nativos aqui da Roça Grande, cidade privilegiada pelo seu relevo e clima, considerada referência mundial no campo de raios, relâmpagos, trovoadas e afins.
Portanto, habitantes da Roça Grande, não temam! Os comparsas pesquisadores da Universidade de Ryukyun garantiram que a descarga não altera em nada o sabor do "alimento". Porém, se nada der certo com o seu tratamento de choque, não vale culpar nossos antípodas: eles provavelmente fizeram o teste com batatas mais inteligentes do que a maioria da nossa população.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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