Ainda sobre a polêmica do uso de animais em testes de laboratório, penso que o verdadeiro problema é a inversão de papeis: seres humanos no lugar de ratos, cães no lugar de seres humanos, seres humanos no lugar de minhocas.
Olhem só como são as coisas: o vereador José Paulo Carvalho de Oliveira (PT do B-RJ), conhecido como "Russo da Autopeças", conseguiu colocar humanos abaixo da condição de minhocas. O distinto senhor teria afirmado, no dia 8 de outubro, em plena sessão comemorativa dos 25 anos da
Constituição na cidade de Piraí (RJ), que "mendigo não tem que votar, mendigo não faz nada na vida. Aliás, acho
que deveria até virar ração pra peixe" (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1363923-vereador-se-desculpa-por-dizer-que-mendigo-deve-virar-racao-pra-peixe.shtml).
Por outro lado, pesquisa do Datafolha indica que, globalmente falando, os paulistanos são contra o uso de cães em testes de laboratório, mas a favor do uso de ratos como cobaias: "Enquanto o emprego de cães em pesquisas foi reprovado por 66% dos
entrevistados, 59% reprovaram o uso de macacos, 57% rejeitam o uso de
coelhos, e apenas 29% condenaram o uso de ratos" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/10/1363200-maioria-dos-paulistanos-defende-uso-de-rato-como-cobaia-diz-datafolha.shtml).
"Coitadinhos dos ratos", pensaram alguns. Outros, mais sensibilizados com sua pouca popularidade nas pesquisas, diriam que "os ratos deveriam ser tratados como qualquer outro animal". Mas, em um ponto, todos certamente concordariam com os extremistas: neste país de paradoxos, o que não dá é para tratar bicho que nem mendigo: sua condição fica abaixo da condição da minhoca, já que esta última ao menos pode ser isca e ter lá sua utilidade.
Mundo estranho esse nosso!
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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