Não tem sido fácil o retorno ao mundo dos vivos. E encontrar algo digno de menção em meio às mazelas diárias narradas nos jornais tem sido um outro desafio.
Mas eis que consigo pinçar uma pérola em meio às inúmeras notícias insossas sobre celebridades inexpressivas: "O escritor colombiano Gabriel García Márquez, 85, fez neste domingo
(29/9) uma rara aparição pública na Cidade do México, onde vive" (www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/09/1349636-garcia-marquez-vai-a-inauguracao-de-boliche-no-mexico-e-mostra-dedo-para-fotografo.shtml).
A bem da verdade, o enfoque da notícia não ajuda em nada a distinção do meu autor preferido em relação às demais celebridades inexpressivas, visto que o tema da notícia insossa foi sua aparição em inauguração de boliche na cidade do México. Teria sido uma cobertura banal - com ênfase no que comeu e com quem foi - se, e somente se, García Márquez não fosse o gênio que é: em foto replicada nos quatro cantos do mundo pela agência de notícias Notimex, "Gabo", como é conhecido entre os íntimos, enfrentou as câmeras com deliberado ato libidinoso e deu uma solene "dedada" para os fotógrafos.
Mas o melhor mesmo da notícia foi a hermenêutica da imagem proposta pela própria agência de notícias: " 'Gabo' estendeu o dedo médio para um fotógrafo da Notimex que registrava
sua presença no local - não está claro se o fez em tom de brincadeira
ou se estava irritado".
Não está claro? Por via das dúvidas, a notícia pressente a imbecilidade do seu leitor médio ao lhe propor o seguinte diagnóstico: "O autor de 'Cem Anos de Solidão' e 'Ninguém Escreve ao Coronel' sofre de
demência senil, segundo revelou seu irmão Jaime no ano passado".
Um gênio esse García Márquez! Quase tão bom quanto Einstein fazendo careta...
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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