
O mais engraçado é que isso nem faz tanto tempo assim. Por exemplo, uma publicidade do grande "must" da Volkswagen no final da década de 1970, a Brasília (Revista Veja, 14-03-1979, p. 43), mostra bem como as relações de consumo de carros um dia estiveram associadas à ideia de transmissão de valores familiares. Assentada na premissa de que "filho de peixe, peixinho é", a propaganda aposta numa continuidade de hábitos de consumo que só seriam possívei, claro, se a Brasília continuasse sendo produzida por pelo menos mais 20 anos.

Levada às últimas consequências, a lógica da argumentação dessa publicidade de ar condicionado vai na contramão do ritmo frenético de consumo que se verifica hoje quando o assunto é "aparelho celular" (a prática de oferecer, todos os anos, um aparelho mais moderno a baixo custo já é praxe em qualquer operadora): nela, pai e filho posam ao lado de um aparelho comprado 21 anos antes e que estaria, supostamente, em perfeito estado de uso.
Claro, tudo isso aconteceu anos-luz antes dos incenivos governamentais no sentido de favorecrer a reposição de eletodomésticos antigos pelos de "linha verde", na tentativa de redução do consumo médio de energia elétrica. E nem precisa falar que não só uma pequena parte da população brasileira tinha acesso a esses produtos, como também a própria população nacional em si contava com alguns 100 milhões de habitantes a menos. Trocando em míudos: ainda planando nas nuvens do desenvolvimeno verificado nos anos do Milagre Econômico, preocupações ecológicas dessa natureza ainda estavam longe do horizonte político do Brasil (não que hoje elas estejam, mas, enfim, isso é assunto para outra ocasião).

Enfim, guardadas as devidas particularidades, todas essas publicidades colocam em suspenso a ideia de que tecnologia avançada é sempre sinômino de futuro. O paradoxo, no final das contas, reside no fato de que em um passado relativamente bem recente, tecnologia já foi praticamente sinônimo de... passado!
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