A lucidez - essa qualidade preciosa e cada vez mais rara - parece estar mesmo em vias de extinção!
Em meio à histeria causada pela execução sumária bin-ladeana, fica difícil manter os olhos na tela do computador, sem com isso franzir a testa. Que o Sr. Obama já havia quase se igualado ao Sr. Osama em escala de fanatismo nacionalista, isso já sabíamos. Mas daí a dizer que o "mundo é um lugar e mais seguro por causa da morte de Osama bin Laden" (http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/05/02/obama-diz-que-mundo-ficou-melhor-com-morte-de-bin-laden-924361558.asp)... Ora, Sr. Presidente, faça-me o favor! Vou continuar pegando ônibus e virando as esquinas escuras com a mesma precaução de antes, sem tirar, nem por. É que talvez o "mundo" seja um pouco maior do que o seu quintalzinho...
Enquanto os detalhes da execução permanecem obscuros - jogado ao mar? morto com um tiro na cabeça? Desde que dê tempo para a coleta de DNA... - o carnaval comia ontem na Timesquare. Mas não pensem que histeria possui apenas dimensões coletivas. Ela pode ser vivida também em grupos menores, à semelhança desse acampamento para mocinhas de 8 a 11 anos, que buscam aprender os modos da realeza (http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/909046-acampamento-em-londres-ensina-modos-da-realeza-a-meninas.shtml).
Entre várias outras coisas mega-interessantes, "lá as meninas aprendem a carregar um livro (ou coroa!) na cabeça, a se comportar no chá da tarde inglês e a andar a cavalo". Bom, até aí, passa. Não tenho nada contra tomar chá, nem andar a cavalo, nem contra fazer malabarismos com livros, apesar de achar que estes podem ser mais divertidos ou úteis quando lidos. Mas o pior vem depois e tem a ver com diretamente com a prerrogativa de acessibilidade daquilo que é ensinado: "Ser princesa é querer ser o melhor possível. Tem a ver com bondade, com botar as necessidades de outros à frente das suas", reza a idealizadora do acampamento Jerramy Fine, de 34 anos. Só que - reparem bem - na sua singela visão, "a realeza não é pra qualquer um".
Ótimo! Depois de patentear "auto-superação", "bondade" e "dedicação altruísta" como qualidades intrínsecas da realeza - algo para lá de discutível - definiu-se (por decreto real?) que estas prerrogativas não podem ser compartilhadas com todos. Parabéns: ensinam às pequenas jovens inglesas que o que é bom é para poucos e que qualidades como essas devem resistir a qualquer ímpeto de universalização. Como se ser bondoso, melhor a cada dia e menos auto-centrado não fosse uma questão de cidadania e sim de privilégio.
E euzinha, com a testa mais franzida do que rosto de cachorro da raça boxer, fico por aqui indagando às estrelas que curso no mundo ensinaria os outros a ter mais lucidez. Garanto que se eu descobrir, não farei como a mestrinha do acampamento inglês: meu achado vai ser aberto que nem software livre, com ponto de distribuição na Timesquare!
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Lucidez: essa qualidade maravilhosa...
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e é incrível como mais de é milhões de pessoas perderam(e perdem)seu tempo com casamento real e acreditando na bondade norte americana no intuito de salvar nossas vidas miseráveis... êta vidinha besta!
ResponderExcluirCaríssima Bozeau (bem sei que é vc disfarçada de "anônimo"): de boas intenções, o inferno está cheio. E como diria o Zé Ramalho: "eoô, vida de gado...".
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