UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: No túnel do tempo da publicidade

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

No túnel do tempo da publicidade

Algum dia, em algum lugar do planeta, alguém há de argumentar que eu só sirvo para falar mal da imprensa cotidiana. Então já vou me antecipando a essa crítica e dizendo que não é verdade: eu também sou capaz de me estarrecer com a publicidade. Ela nos fornece um espelho interessante daquilo que somos ou que fomos. Ou melhor: ela fornece um espelho daquilo que um grupo de profissionais acredita ser o que desejamos: tanto aquilo que desejamos ser, como aquilo que desejamos ter.

A colocação anterior carece de exemplos. Partamos do anúncio acima, retirado de um banco de dados que formei há uns 5 anos. Esta publicidade de sungas da Poesi, que foi publicada na Veja de 31 de outubro de 1979 (p.5), mostra como andava o ideal de corpo masculino naqueles idos.

Passados 25 anos, o ideal de corpo masculino ganhou, no mínimo, vários centímetros de massa magra. O fato de que o produto anunciado pouco precisasse apelar para a sensualidade do corpo masculino para dar o seu recado - e aqui estamos falando particularmente de uma campanha de doação de órgãos promovida pelo governo do Estado de Minas Gerais e publicada na Revista Isto É de 10 de novembro de 2004 (p.78) - só vem a confirmar a minha intuição de que os modelos estéticos são tanto mais sugestivos, quanto menos forem absolutamente necessários para o anúncio em questão.

Se, no primeiro exemplo, os três cavaleiros parecem envergonhados e nem sequer encaram de frente o olhar do(a) leitor(a) - talvez porque o slogan anuncie "maiôs para uma amor de verão", ao passo que eles estão só de sunga! - no segundo, o modelo foi "decepado", preservando-se assim uma situação de "anonimato". Sobrou só um corpo pedindo para o leitor(a) ter o desprendimento necessário para encarar a doação de órgãos. Na primeira publicidade, a intenção de seduzir estava óbvia demais para ser assumida de frente. Na segunda, deslocada demais do objetivo do anúncio para ser admitida enquanto tal.

Engraçadas essas publicidades. Na pior das hipóteses, elas me deram uma dimensão de como os gostos mudam. Fica aqui a minha provocação: "Olhos nos olhos, quero ver o que você faz!" Compra a sunga ou doa um rim? Isso é você quem escolhe!

3 comentários:

  1. Totalmente surreal... Bom, pelo menos para isso, esse blog serve.

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  2. Você só serve pra falar mal da imprensa cotidiana! Hahaha!

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  3. Não! Eu também sirvo para falar mal da publicidade cotidiana... e ainda por cima cozinho razoavelmente bem!

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