UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Flores para um fígado maltratado!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Flores para um fígado maltratado!

Estava reparando no quão viscerais foram os meus comentários na semana que passou. Também, os temas não têm ajudado muito: Tiririca, centopeias, Ronaldo, salário mínimo, banheiro público que não é público... Foram tantas as mazelas que meu pobre fígado terminou a semana prejudicado.

É para poupá-lo do féu das minhas próprias críticas que hoje só vou falar das flores. Mas quais flores? As flores do cerrado, ora essa! Esse ecossistema fantástico, com tantas maravilhas sob ameaça constante (http://www.agrosoft.org.br/agropag/102494.htm)... Nos idos de 2008, já eram 131 espécies da flora do cerrado ameaçadas de extinção. Bem, mas vamos deixar a denúncia para outro dia e falar de coisas mais leves: proponho, então, uma hermenêutica das flores do cerrado!

Se repararmos bem de perto, essas danadinhas chegam a ser de uma fragilidade comovente. É tanta delicadeza, tanta gentileza na forma, tanto jeito doce (e ao mesmo tempo contundente) de se anunciar, que chegar a criar um atrito com a aridez do ambiente circundante: predregoso, irregular, ácido.

No entanto, elas - as flores - simplesmente desconsideram o meio em que vivem. Porque em meio a pedras, areia e espinhos, elas precisam irromper da adversidade para dar o seu recado. Autistas ou teimosinhas? Obstinadas, tenazes ou simplesmente irreverentes? As flores do cerrado parecem realmente não ligar a mínima para o que pensam, o que dizem, o que falam, "deixa isso para lá, vem pra cá, o que é que tem?". E se olharmos ainda mais de perto, talvez cheguemos à tácita conclusão de que elas vêm ao mundo só mesmo para caçoar dos pedregulhos. Existiria um quê de deboche nisso tudo, de provocação pura de quem não tem o que fazer em meio a tanta secura? Seriam irônicas, as flores do cerrado?

Pode até ser que não haja nada de nobre na sua beleza, que tudo não passe de puro atrevimento. Também, pudera: sua existência já é um desafio. Mas nem uma amante contumaz da ironia machadiana como eu seria capaz de dar um verdicto tão áspero e definitivo. Prefiro deixar o assunto em aberto.

Então, nessa tarde de sábado, quero apenas convidá-los a se deleitar com as cores e formas dessas flores da Serra do Cipó. Porque enigmáticas elas são mesmo. Mas certamente não há, no mundinho circunscrito do cerrado, beleza comparável à delas.

4 comentários:

  1. Que bom que ainda existem pessoas que param diante da beleza do mundo. Apresentada em pequenas proezas. Belezas estas capazes de nos retirar, mesmo que por um breve momento, da loucura cotidiana.

    ResponderExcluir
  2. Beleza ou ironia? Nunca se sabe o que esperar das flores do cerrado! Aqui: tá passando da hora de colocar o Moinho de Versos para rodar, falou? Bjs!

    ResponderExcluir
  3. A ironia não escolhe vítimas... Passou na frente dela, ela salta em cima, impiedosa, e não larga de jeito nenhum. A ironia e o carrapato são grandes amigos, sabe?

    ResponderExcluir