UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Natalinas tardias

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Natalinas tardias

Todo ano é a mesma coisa: nos dias que antecedem o Natal, o mundo parece que vai acabar!

Foi mais ou menos este o sentimento de quem viu ou teve notícia do movimento de pessoas na Rua 25 de Março, em São Paulo, às vésperas do Natal: quintessência do termo "superlotação", estima-se que um dos principais polos do comércio popular da maior cidade da América do Sul tenha recebido, "nas imediações do Natal, de 800 mil a 1 milhão de pessoas [que] passam por dia pela região, segundo a União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco)" (http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/12/1389928-unico-comerciante-a-trabalhar-na-25-de-marco-no-natal-diz-e-so-pelo-habito.shtml).

Mas eis que nesta manhã do dia 25 de dezembro, tudo se inverte: equipe do caderno São Paulo do jornal Folha de S. Paulo acusou o movimento oposto, qual seja: um esvaziamento quase absoluto de uma das principais vias de comércio da capital paulistana. "A sãopaulo correu a 25 de Março de cima a baixo por três vezes. Contou 12 pessoas em 15 minutos: seu Manuel, oito policiais militares na labuta, um catador de latas e os dois clientes da Campeão".

Por conta desse esvaziamento costumeiro, o "seu" Manuel virou celebridade. Ele foi responsável pelo funcionamento do "único comércio aberto na via às 11h de hoje": o bar e churrascaria Campeão, situado na rua 25 de Março, esquina com Maria Benedita. A justificativa é para lá de conhecida: " 'É só pelo hábito. Trabalho porque tem que trabalhar', disse o dono do lugar, que pediu para não ser fotografado".

Seu Manoel: pois de todos as esquisitices experimentadas nesta vida, esta de fazer as coisas "por hábito" é a de que eu mais quero me curar. Não digo isso pelo fato de estarmos "transgredindo" a norma do descanso em dia de feriado (quase) consensual. Cá para nós, também estou escrevendo aqui, hoje, escrevendo em pleno Natal, e nem por isso não me sinto nem devedora nem lesada (nas duas acepções do termo: econômica e mental). Mas dar prosseguimento ao curso das coisas pela simples razão de que "sempre foi assim" é uma opção existencial que oscila entre o determinismo atávico e a total descrença no imponderável.

Se bem que, na solidão dos seus hábitos repetitivos, seu Manuel deve ter acalentado outras almas como as dele, sem família próxima ou porto seguro onde ancorar em um dia pleno de consensos. " 'Pouca gente mora por aqui. Os donos das lojas com certeza não vêm pra esses cantos, então só ficam os pobres coitados que ralam', disse Welington Sousa, 26, que trabalhou até as 16h de ontem como vendedor de uma loja de surf ali do lado".

Em caso de dúvida existencial, no entanto, basta limpar o balcão com um pano úmido e esperar secar as incertezas: "Amanhã começa a voltar tudo ao normal", disse seu Manoel à equipe da Folha de S. Paulo. "E eu vou continuar aqui." A menos que o imponderável se manifeste na forma de algum acontecimento imprevisto: milagre de Natal?


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