UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Na sala de estar

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Na sala de estar

É verdade! Eu já andava com saudades de uma das minhas implicâncias preferidas: as matérias jornalísticas sobre o fim do mundo.

Mas esta aqui pelo menos tem o mérito de não entrar na onda da "Crônica de uma Catástrofe Anunciada": matéria publicada no jornal O Globo online por arqueólogo da Universidade de Boston que acaba de publicar na Revista Science diz que é tudo mentira: o mundo não vai acabar em 2012! (http://oglobo.globo.com/ciencia/novos-calendarios-maias-afastam-fim-do-mundo-em-2012-4864914#ixzz1uWdO6hjM).

Ufa! Ainda bem! Precisava mesmo de um artigo da Science para ter certeza disso. Aliás, uma das poucas novidades trazida pelo arqueólogo da vez, o sr. William Saturno, é a originalidade da fonte citada: o mais antigo calendário astronômico maia de que se tem notícia e que é "centenas de anos mais velho que o chamado 'Códice de Dresden', de onde os arautos do fim do mundo tiraram a ideia de que os maias previram uma catástrofe global em 21 de dezembro deste ano". E, exatamente como na vida acaêmica moderna, entre duas versões do mesmo dito, prevalece a fonte mais antiga!

A outra novidade trazida pelo arqueólogo também tem lá o seu charme: o mural está disposto em um ambiente um tanto quanto inusitado. "Os hieróglifos estão em uma das paredes de um cômodo de um complexo habitacional em Xultún que os pesquisadores acreditam era usado como local de trabalho peplos (sic!) sacerdotes e astrônomos responsáveis pela contagem do tempo".

Que curiosa homologia! Na maior parte das salas de estar dos conjuntos habitacionais do nosso país (na eventualidade de realmente possuírem este cômodo), o mundo acaba todas as noites quando a TV está ligada no Jornal Nacional. Moral da história: somos mais maias que os próprios maias, pois nosso ciclo de catástrofes dura apenas 24h, tempo necessário para a fabricação da próxima edição do dito telejornal.

"É a primeira vez que vemos esse tipo de escrita na parede de uma casa e um espaço como este tipo de uso em uma cidade maia – destaca Saturno". Se eu tivesse pensado nisso antes, também teria escrito um artigo para a Science. Mas como comi mosca, William Saturno primará sobre William Bonner. E nossos conjuntos habitacionais continuaram sem o glamours do seu corrrespondente maia.

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