UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: O olhar da Phyllomedusa!

sexta-feira, 11 de março de 2011

O olhar da Phyllomedusa!

É verdade que venho demonstrando ultimamente uma certa predileção pelos artigos de vulgarização científica. A razão disso é bem simples: a despeito da pretensa seriedade e respeitabilidade científicas que eles ensejam, tais artigos costumam ser os mais engraçados de toda a miscelânia jornalística quotidiana. É como se, no transcurso do linguajar científico para a vulgata jornalística, eles tropeçassem no salto e perdessem toda aquela elegância que só a inacessibilidade aos mais comuns dos mortais sabia preservar.

Na minha modesta opinião, é justamente isso que os torna ainda mais atraentes: eles permitem aproximações e paralelos inusitados com outros eventos nem tão sérios ou nem tão respeitáveis. Vejamos esse exemplo: a Universidade de Newcastle, na Inglaterra, estuda a possibilidade de tratamento de fertilidade in vitro a partir do material genético de três pais biológicos diferentes (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/03/11/tratamento-de-fertilidade-com-tres-pais-biologicos-esta-em-estudo-na-inglaterra-923992127.asp). Segundo a matéria veiculada no O Globo Online, tal técnica - que seria destinada ao controle de doenças hereditárias incuráveis - implicaria, em termos bem práticos, em um processo de fertilização "no qual o bebê seria concebido por três pais biológicos".

Fiquei pensando no quanto a Humanidade caminhou para descobrir que o sucesso em termos da fertilização é o método de reprodução da perereca Phyllomedusa. Aliás, se os geneticistas acham que estão inovando, lamento informar que essa simpática perereca chegou primeiro e que a ela cabem todos os royalties. Para quem não sabe, a Phyllomedusa - doravante denominada Filô para fins de simplificação ortográfica - é a grande mentora intelectual desse experimento, na qualidade de promotora do método "fertilização sorrateira". Generosa e antenada, a Filô é uma perereca que entende do real significado da divisão do trabalho: é que no seu método de fertilização, mais de um macho pode participar da fecundação de seus ovos.

Tudo se passa da seguinte forma: noite alta, dona Filô organiza uma festinha, à qual são convidados os machos da redondeza. Após um breve concurso para descobrir quem é o coaxador mais potente, o macho Pavarotti vencedor leva a Filô até um galhinho romântico, onde começa o processo de desova da fêmea e a consequente inseminação pelo macho. E é aí que entra em cena seu invencível método de "fertilização sorrateira", em que um segundo, um terceiro, um quarto e, quiças, um quinto pai biológico começam a entrar na dança.

A semelhança entre o método da Filô e o dos cientistas da Universidade Newcastle fica patente neste testemunho jornalístico emocionante: "Tivemos a oportunidade de observar um casal, já na metade da desova, atrair um outro macho, que, sorrateiramente, parecendo medir cada passo, aproximou-se e se posicionou entre o casal. O segundo macho também participou da desova, que vai gerar girinos de uma mesma mãe, mas de pais diferentes" (http://www.anda.jor.br/2009/09/01/especies-de-perereca-repetem-curiosos-rituais-de-acasalamento/).

Bem, todo mundo conhece ou já ouviu falar da Medusa - aquela figura mitológica feminina com cabelo de cobrinha - que, segundo consta nos autos, hipnotizava suas pobres vítimas, transformando-as em pedra. Diria que, nesse caso, os cientistas da Universidade de Newcastle parecem ter sido hipnotizados pelo olhar da Phyllomedusa. Claro, a graça disso tudo não reside no experimento em si, mas naquilo que seu relato jornalístico possibilita a uma imaginação ociosa como a minha. Tudo isso faz parte do próprio paradoxo da vulgarização científica: perde-se em complexidade, ganha-se em acessibilidade. E os trocadilhos vêm como bônus...

3 comentários:

  1. marialuzianeto@hotmail.com11 de março de 2011 às 16:36

    Eh, Juliana! Você me surpreende e diverte com as "matérias" que vc. posta. Muito interessante o caso da perereca. Mas, cuidado! Se a moda pega entre os humanos, há o risco de termos, em breve,
    medusas e medusos entre nós.Pode ser que seja bom...

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  2. Luzia: já imaginou um filho com três cabeças, cada uma de um pai biológico? Ele seria um autêntico Filomeduso! Credo!!!

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