UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Automóveis, alvos móveis

terça-feira, 1 de março de 2011

Automóveis, alvos móveis

Fiquei me lembrando daquela música do Ed Motta: "automóveis, alvos móveis, atropelamento e fuga". Foi essa a triste sensação que ficou quando vi o vídeo do atropelamento (vergonhoso, vergonhoso, vergonhoso...) impetrado pelo funcionário do Banco Central, o sr. Ricardo Reis, no último dia 25 de fevereiro, em Porto Alegre. O alvo foram pelo menos 16 ciclistas que faziam uma manifestação pacífica promovida pelo Grupo Massa Crítica em prol da substituição do carro pela bicibleta como veículo de transporte(http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/882600-justica-analisa-pedido-de-prisao-de-atropelador-de-ciclistas-no-rs.shtml).

O flagrante do atropelamento não deixa muita margem às conjecturas:



Mesmo contra a evidência das imagens, o atropelador alegou inocência. Só que sua situação tem ainda vários outros agravantes. A primeira delas é que, exatamente como na canção de Ed Motta, trata-se de uma sequência de atropelamentos, seguida de fuga sem prestação de socorro às vítimas (imperativo legal de qualquer pessoa que vivencia uma situação de atropelamento). Em segundo lugar, ao depor na delegacia, o motorista afirma ter "agido em legítima defesa" de si próprio e do seu filho de 15 anos, que presenciou toda a cena. Em terceiro lugar, o Sr Reis prestou um desserviço à formação do seu filho de 15 anos, ao qual deveria dar um exemplo... positivo! Pelo menos, é isso que se espera de um pai.

Bem, como este blog é bastante afeito a ironias, vou fingir que levo a sério a alegação de "legítima defesa" acionada pelo Sr. Reis e tentar imaginar diversas situações em que ciclistas poderiam atentar contra a integridade física e moral do senhor em questão:

1. Assassinato por buzinaço: ciclistas ensandecidos acionaram todos, de uma só vez, buzinas, apitos e campainhas estridentes, com o fino propósito de enlouquecer o motorista do Golf preto; atentaram, portanto, contra a integridade psicológica do motorista, que não suporta apito, nem buzina...

2. Agressão estética deliberada: mulheres com varizes, crianças sem dentes e velhinhos sem cabelo ostentatam suas mazelas estéticas livremente pelas ruas de Porto Alegre, com o intuito claro de estragar a paisagem que se desenhava pela janela do Golf; contra um crime dessa monta, não há ação mais preventiva do que o atropelamento; as crianças ficarão com menos dentes e as damas e velhinhos, com mais hematomas, isso é certo, mas pelo menos não passearão mais pelas ruas da cidade...

3. Transgressão da lei da gravidade: como se não bastasse os inconvenientes causados até então, os ciclistas, durante o atropelamento, optaram deliberadamente por infringir a lei da gravidade e voaram por cima do capor do carro; e ainda agiram de má fé, arranhando a lataria... atropelamento mais que merecido!

4. Obstrução da via: Mesmo depois de derrubados que nem dominó, os ciclistas insanos mantiveram-se no firme propósito de continuar transgredindo a lei, obstruindo desta vez a passagem dos demais carros com a imposição de barricadas de pneus, paralamas despedaçados e cacos daquelas armas de destruição massiva que chamam de buzinas... Ameaçaram a integridade do motorista, portanto, antes, durante e depois do episódio meramente defensivo.

Bem, vou parar por aqui. Minha ironia tem limite e a covardia desse sujeito também deveria ter. O poder de causar danos físicos de um carro é incomparavelmente superior ao de uma bicicleta. A suposta ameaça da qual se defendeu o motorista faltoso não era física, mas simplesmente psicológica: ele estava sendo confrontado com sua própria barbárie. E perdeu feio para ela!

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