A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
quarta-feira, 19 de julho de 2017
O essencial e o supérfluo
Aqui vai a minha primeira constatação após percorrer recentemente as páginas virtuais do grande jornais nacionais: continua árdua a tarefa de garimpar uma notícia positiva e construtiva no jornalismo diário.
Segunda constatação: se não fosse a notícia sobre a festa de casamento promovida pela uma tal de Sarah Commins, moradora da cidade de Indianapolis, nem teria valido a pena percorrer as páginas do noticiário. Longe de merecer o glamour e a atenção das colunas sociais, esta festa nos convida a uma reflexão sobre o essencial e o supérfluo na vida de cada um.
A festa de casamento da Srta. Commins se diferencia de todas as outras em pelo menos dois aspectos. Em primeiro lugar porque não houve, de fato, casamento: a festa foi mantida, apesar do cancelamento da cerimônia uma semana antes do evento. Em segundo lugar porque ela optou (com o aval do ex-noivo) por oferecer o estritamente essencial - seu próprio jantar de casamento - para convidados pouco prováveis em outras circunstâncias: um grupo local de desabrigados e veteranos de guerra.
A festa, que havia sido selada e lavrada em um contrato não reembolsável no valor de US$30 mil e tinha previsão de acolher 170 convidados na casa de festas Ritz Charles, contou com a presença da própria anfitriã, acompanhada de três madrinhas, mãe e tias. O cardápio original (todo ele recheado de supérfluos) foi mantido em sua essência: além das populares almôndegas, tinha também "queijo de cabra e brusqueta com alho assado, peito de frango com alcachofras em molho cremoso de Chardonnay" - além, claro, do incontornável bolo do casamento.
Como não poderia deixar de ser, a opção da ex-noiva por "uma forma altruísta e generosa de lidar com a situação" acabou inspirou a generosidade de terceiros: "vários empresas locais e residentes doaram ternos, vestidos e outros itens para os convidados usarem".
Fartura para os convidados, lição de vida para quem se dispôs a perceber, nos detalhes, a essência do verdadeiro convite: o exercício da solidariedade e do desprendimento para ressignificar os revezes da vida.
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