UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Germinal

terça-feira, 8 de abril de 2014

Germinal

Ainda hoje me lembraram do talento narrativo de Émile Zola no seu romance Germinal. "É mesmo", pensei. E pensei que tinha até me esquecido de que este foi um dos meus livros preferidos aos vinte e poucos anos.

Germinal gira em torno da trajetória de Etienne, um trabalhador que chega do sul da França em busca de trabalho nas minas do norte. Mas o lado mais bonito e profundo do personagem central é o seu aprendizado. Ele aprende a ser mineiro, a ser orador, a liderar uma greve, a se formar como líder. A história de Germinal é, antes de tudo, a história da formação de uma consciência social, a história de uma subjetividade que se forma à medida em as páginas avançam. É a formação de uma subjetividade em processo contínuo, no envolvente fluxo da narrativa das mazelas vivenciadas pela família Mahieu, núcleo familiar do qual Etienne se aproxima e cria laços de amizade.

 O trecho que se segue fala de um momento apoteótico em que Etienne discursa em público pela primeira vez e se descobre líder:

"Por sua vez ele foi furiosamente aplaudido, o próprio Etienne ficou ltrapassado.Sucediam-se os oradores no tronco da árvore, gesticulando no meio da gritaria, lançando propostas terríveis. Era o ataque de loucura da fé, a impaciência de uma seita religiosa que, cansada de esperar pelo milagre prometido, decidira-se finalmente a provocá-lo. As cabeças enfraquecidas pela fome enxergavam vermelho, sonhavam com incêndios e sangue em meio a uma glória de apoteose, de onde subia a felicidade universal. E a lua, tranqüila banhava aquele mar agitado, a floresta imensa cingia com seu grande silêncio aquele grito de massacre. Só a relva gelada estalava sob os sapatos, enquanto as faias, eretas na sua força, com a delicada ramagem dos seus galhos negros, engastados no céu branco, não viam nem ouviam os seres miseráveis que se agitavam a seus pés" (http://ciml.250x.com/archive/literature/portuguese/zola_germinal.pdf, p. 230).

Germinal é um livro atual, rico em nuances, profundo em reflexão. Bom para ser lido às vésperas da Copa do Mundo, em meio a aumentos de passagem abusivos e ilegais. E contra os senhores feudais que insistem em nos fazer crer que é tarde demais para desprogramar o aumento das passagens nas catacras eletrônicas dos ônibus urbanos da capital, um aviso: "se a tarifa aumentar, a cidade vai parar'.

E quem avisa, amigo é!

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