UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Nós e as melancias chinesas

terça-feira, 28 de junho de 2016

Nós e as melancias chinesas

A China é danada. Além de viver desvalorizar propositalmente sua moeda e fazer desabar as bolsas de valors pelo mundo afora, seus habitantes ainda conseguem produzir rumores de larguíssima escala - os maiores do planeta, por sinal! - como nenhum outro país seria capaz de criar.

A controvérsia em torno do velho hábito de bater na casca da melancia é uma delas. "Tudo começou quando um chinês publicou uma foto de um aviso de um supermercado na Itália que pedia aos clientes para não baterem nas melancias," relata notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo

Mas o fato de o cartaz estar escrito em italiano - um indício de que ele havia sido exibido originalmente a milhares de quilômetros da China - e de não haver um único chinês presente na cena em nada contribui para evitar que uma comoção nacional se instalasse a partir de então: "os chineses o interpretaram como um ataque a uma prática considerada por muitos como um costume único de seu país".

O problema de uma preocupação super-dimensionada com a auto-imagem arranhada e de uma necessidade atroz de colocar a melancia no pescoço (um trocadilho bastante a calhar neste contexto), nós, brasileiros, conhecemos bem. O que não conhecemos é essa propensão a defender o país a unhas, dentes e mãos tamborilando na casca da melancia. "A verdade é que os chineses estão sempre a postos para rebater fatos falsos sobre o país e zelar por sua reputação —assim como a mídia chineses (sic) com frequência considera relatos publicados em redes sociais como verdadeiros".

Ainda de acordo com a notícia, "bater na melancia e esperar ouvir um som oco é, na verdade, um costume quase universal", da mesma forma como o é a tendência da mídia de publicar relatos nas redes sociais como se fossem verdade. Contudo, a preocupação com a auto-imagem de uma nação parece produzir efeitos inversos aqui e lá. Na China, a comoção e a indignação gerados pela suposta referência implícita aos chineses fizeram com estes se unissem para provar que seu método de teste de melancias era o melhor do planeta.

Estivéssemos nós na mesma situação de pseudo-questionamento, a reação teria sido totalmente diferente. Rapidamente, nós correríamos para o Facebook para compartilhar aos quatro ventos uma suposta notícia sobre o desmantelamento de uma suposta máfia internacional de brasileiros tamboriladores de melancia, sob protestos veementes de que "este país anda perdido mesmo". 

A despeito de tudo isso, uma ampla maioria da população brasileira continuaria a tamborilar cinicamente nas melancias da esquina (alguns mais desinibidos chegando mesmo a pendura-la ostensivamente no pescoço), como se a prática hedionda fosse prerrogativa exclusiva dos mafiosos aqui instalados desde a chegada de Cabral. 


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