UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Fusão e desaceleração

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Fusão e desaceleração

Lembra dos novos elementos da tabela periódica, cuja descoberta foi anunciada logo na primeira semana deste ano de 2016? Pois então: a partir de hoje, eles deixaram de ser apenas um número e passaram a ganhar nomes próprios: "são eles nihonium (número atômico 113), moscouvium (115), tennessine (117) e oganesson (118)".

Antes, precisou da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) analisar as propostas de nomes submetidas pelos grupos responsáveis pelas descobertas para dar o seu aval. O próximo passo será submete-los a " um período de consulta pública", após o qual "os nomes serão aprovados e o resultado será publicado."

A lógica da nomeação dos elementos químicos novos segue mais ou menos um padrão previamente estabelecido. Os nomes moscovita (de Moscou), tennessine (do Tennessee) e nihonium (de Nihon, um dos nomes atribuídos ao Japão) são alusões aos locais onde essas descobertas foram realizadas. Apenas o elemento oganesson homenageia diretamente o seu descobridor, Yuri Oganessian, um físico nuclear russo de ascendência armênia.

Um aspecto interessante a respeito dos novos elementos da tabela periódica é que eles não existem na natureza e precisaram de condições especiais em laboratório - como um acelerador de partículas, por exemplo - para serem produzidos artificialmente: "os novos elementos não existem na natureza e são criados por aceleradores de partículas que fazem elementos menores colidirem entre si e se fundir. Os átomos criados nessas condições sobrevivem por apenas algumas frações de segundo".

Inevitável estabelecer uma analogia entre as fusões ao ler a notícia publicada hoje sobre as manifestações contra o fim do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, realizadas essa tarde na Universidade Federal de Minas Gerais, diante da sua recente fusão com o Ministério de Comunicações.  Realmente, não sei quem teve essa ideia de jerico, mas a única coisa "acelerada" com essa fusão de pastas será o nosso atraso: dividir a verba de uma área estratégica como a de ciência e tecnologia com a de outra, na qual os interesses corporativos falam mais alto, é dar um tiro no pé do avanço da pesquisa e das ciências no país. 

Como explica com didaticamente o comunicado assinado pela Fundação Osvaldo Cruz, "o MCTI tem como linhas de atuação fomentar, junto a agências financiadoras, o desenvolvimento da ciência e tecnologia e desenvolver investigação científica em seus Institutos de Pesquisa. O Ministério das Comunicações age junto a órgãos de controle que visam dar transparência e acesso às ações governamentais, além de proporcionar a interação com a sociedade civil. São claras as diferenças entre os procedimentos adotados pelos dois ministérios e suas respectivas áreas de atuação, para que se possa unificá-los em uma única estrutura."

O fim do MCTI tal como o conhecemos no passado - isto é, com autonomia de Ministério - é um retrocesso tão grave que só nos cabe renomeá-lo para MCTinha: tinha ciência, mas acabou; tinha pesquisa, mas acabou; tinha produção científica crescente, mas acabou; tinha formação de novos quadros na ciência, mas acabou. 

Enfim: no país do "tem, mas acabou", sobraram justamente as áreas mais vulneráveis a cortes, como Educação, Cultura e Ciência & Tecnologia. Torço apenas para que os "novos ministérios" criados sob condições tão artificiais tenham vida tão curta quanto os átomos dos elementos químicos criados em laboratório.




Nenhum comentário:

Postar um comentário