UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: A grande bola de cristal

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A grande bola de cristal

Não sei se esta notícia publicada no hoje no jornal O Globo online faz o seu gênero, mas ela certamente vai agradar àquele sujeito que - estando de férias, desempregado ou trabalhando em ritmo de lentidão pós-natalina - ainda teima em sonhar de olhos abertos com a virada de ano na Times Square, em Nova Iorque.

A notícia em questão ensina que "a principal atração do Ano Novo em Nova Iorque já está recebendo os últimos retoques para sua entrada triunfal nos primeiros segundos de 2016". A atração, no caso, refere-se a uma bola de cristais Waterford (conhecida como a  mais refinada e a mais cara marca de cristais no mundo), que é vertida do alto do prédio One Times Square. Ela perfaz o percurso de 43 metros morro abaixo para, então, permanecer presa a uma altura de 145 metros do chão, "durante um minuto, nos primeiros instantes do ano que se inicia".

Para torná-la um autêntico "Gift of Wonder", segundo os termos do seu projeto original, são necessários nada mais nada menos do que 2.388 triângulos de cristal ajustados à bola. Fora isso, "os cristais customizados, que são criados por artesãos, suportam ventos fortes, chuva e variações de temperatura". 


Quanto a mim, cujo grau de sofisticação é comparável ao de um socozinho na Lagoa da Pampulha, corro e esconjuro esta afronta à verdadeira vocação das bolas de cristal. Em tempos turbulentos como os nossos, bolas de cristal não deveriam voar do alto de edifícios, nem muito menos servir à apreciação coletiva em praça pública. 


Ao contrário dessa mise en scène toda, bolas de cristal são destinadas ao confinamento em uma única mão, de preferência treinada para o ofício da premonição. E mesmo sendo instrumento divinatório dos mais manjados, elas assim deveriam permanecer até o final dos tempos. Do contrário, ocasionarão o desemprego de ciganas avulsas, dessas que atendem em casa, com indumentária própria, sem carteira assinada ou qualquer representação sindical, pela módica quantia que um assalariado mínimo conseguiria, mesmo que por puro capricho, pagar.


Por essas e outras, o meu voto hoje vai pela redução do risco de acidentes em eventos público, pela preservação das profissões em vias de extinção e, consequentemente, pela reserva de mercado às ciganas de profissão.


Sem mais para o dia de hoje, fico por aqui torcendo para que a transição do ano de 2015 se faça com toda a doçura e (tudo correndo bem) para algo novo e muito melhor do que o que se viu até agora.



Nenhum comentário:

Postar um comentário