UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Insinceridade geracional

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Insinceridade geracional

Que as gerações vivam lá os seus conflitos de tempos em tempos, isso já é de praxe. Mas bastou mais um daqueles estudos comportamentais de teor duvidoso para colocar em evidência o fosso que divide as gerações da era do impresso das gerações da era digital.

A notícia (para variar) chegou de segunda mão por aqui, devidamente mediada (como sempre) pelos jornais do centro do mundo (no caso, o Washington Post). Publicada no jornal Folha de S. Paulo, ela fala de um estudo da Universidade de Binghamton, conduzido com um grupo de 126 universitários. O intuito da pesquisa era testar "como as mensagens eram recebidas, com e sem ponto final."

A conclusão é estarrecedora: "Quando as pessoas recebiam mensagens de texto encerradas por um ponto, os receptores atribuíam uma maior falta de sinceridade ao texto." E por que cargas d'água um ponto final mudaria toda credibilidade de um texto - e para pior? A explicação da pesquisadora Celia Klin é bastante verossímil, ainda que ela não explique em nada a implicância com o coitado do ponto final.

Para não dizer que a implicância agora é minha, vejam como o percurso do raciocínio é tortuoso. Segundo ela, "mensagens de texto não transmitem a maior parte dos indicadores de sociabilidade usados em conversas presenciais." Ok, fácil concordar. Depois ela prossegue, dizendo que "quando as pessoas falam, elas comunicam informações sociais e emocionais com os olhos, expressões faciais, tom de voz, pausas e tudo o mais". Ok também (e aqui passamos do fácil para o óbvio).

Contudo, a explicação a explicação final mais reforça a importância da pontuação do que explica propriamente a correlação entre pontuação e insinceridade. "As pessoas obviamente não conseguem usar esses mecanismos quando estão mandando mensagens de texto. Então faz sentido que quem receba as mensagens conte com os sinais disponíveis - emoticons, palavras escritas errado de propósito e, de acordo com nossos dados, pontuação."

No fim das contas, a questão que permanece acaba sendo outra: para que caçar confusão, alegando a falta de lógica de um raciocínio para um público que anda duvidando até da idoneidade dos pontos finais?

Vou dormir com essa, mas não prometo resposta matinal.

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