UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: A partenogênese na Era de Aquário

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A partenogênese na Era de Aquário



Por mais que tomemos conhecimento do rol de coisas estranhas que andam assolando o mundo afora, ainda iremos nos surpreender bastante com notícias como esta, que foi publicada no jornal O Globo online de hoje: "Tubarão fêmea engravida a si mesma e impressiona cientistas", relata o título da notícia.

Aparentemente, a fêmea resolveu inovar ao adotar um método reprodutivo inédito na vida dos tubarões: a partenogênese (reprodução assexuada que dispensa troca de material genético proveniente de células masculinas e femininas). Segundo a notícia, "um tubarão fêmea chamado Leoni (sic), localizado em um aquário em Townsville, na Austrália, foi o primeiro de sua espécie, o tubarão-zebra (Stegostoma fasciatum), a mudar de uma reproduçao sexuada para assexuada"

Obviamente, a mudança causou furor no meio científico. Tema de artigo científico assinado pela pesquisadora Chistine (sic) Dudgeon (Universidade de Queensland) e colaboradores e publicado na revista Scientific Reports desta semana, o acontecimento foi narrado da seguinte maneira na imprensa nacional: "Leoni (sic) deu luz a (sic) filhotinhos em 2013, depois de ter cruzado com um tubarão macho. Ela foi então separada dele, mas três anos depois, em abril de 2016, colocou três ovos, apesar de não ter tido contato com um animal do sexo oposto."

Surpresos com a gravidez inesperada, os pesquisadores logo quiseram saber quem foi o responsável: "Pensamos que ela poderia ter estocado esperma, mas quando testamos o DNA dos filhotes em busca de seus possíveis pais, descobrimos que eles só tinham células da Leonie."

Para os autores do estudo, a mudança é considerada uma resposta adaptativa desta espécie de tubarões que, por sinal, figura entre as espécies ameaçadas de extinção que aparecem nLista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). Falta ainda saber se os filhotes de Leonie também serão capazes de se reproduzir pela partenogênese, o que acarretaria consequências para a própria espécie, já que a reprodução assexuada provoca "a redução da diversidade genética ao longo das gerações." Contudo, no meu humilde entender, o "caso Leonie" é mais intrigante do que supõe a nossa vã filosofia. 

Uma das razões da minha suspeita é que ele deixa em aberto muito mais perguntas do que parecem sugerir, a princípio, os autos científicos. Um rápido levantamento imaginário junto a alguns internautas desocupados das minhas relações pessoais revelou que os questionamentos dos leigos seriam bastante diversos daqueles trazidos por conservacionistas, ictiólogos ou geneticistas. 

As dúvidas dos internautas hipotéticos abrangem uma gama maior de áreas de conhecimento, que vão desde a Teologia até o Direito Administrativo, passando pela Nutrição: 
a) o que Leonie andou comendo nos últimos tempos? 
b) ela recebeu a visita de algum anjo no aquário de Townsville? 
c) em caso positivo, ele se chamava Gabriel?
d) O nome do tubarão-macho com que vivia em 2013 era José?
d) Leonie alterou seu status no Facebook para "em reprodução assexuada consigo mesma"?
e) Constará nome de algum progenitor na certidão de nascimento dos filhotes de Leonie? 
f) Filhotes de partenogênese têm direito a pensão alimentícia?

Há, por fim, quem não atribua as mudanças na reprodução dos tubarões-zebra à sua capacidade adaptativa, mas, sim, às turbulências e instabilidades típicas da Era de Aquário. Seja lá como for, a conclusão prática aqui é irrefutável sob todos os pontos de vista científicos: a Era de Aquário já parece ter começado em Townsville.

P.S.1 = Algumas correções se fazem necessárias na notícia do jornal O Globo: a autora principal do artigo se chama Christine Dudgeon e não Chistine Dudgeon, conforme citado no artigo.
P.S.2 = A fêmea de tubarão em questão se chama Leonie e não Leoni.
P.S.3 = A expressão correta é "dar à luz filhotinhos"; "dar luz a filhotinhos" seria o mesmo que entregar uma lanterna aos tubarões-bebês.

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