UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Um ministro e as Perseidas

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Um ministro e as Perseidas

Desculpem, mas está difícil não bater na tecla das diferenças de gênero nesses últimos tempos.

Sim, temos o que comemorar: Mayra Aguiar, do judô feminino, emplaca mais uma medalha, de bronze desta vez, para o Brasil. Aliás, duas das três medalhas do Brasil até agora foram conquistadas por atletas do judô, uma modalidade na qual o desempenho feminino não é tradicionalmente exaltado.

Mas uma coisa é fato: o atual ministro da saúde, Ricardo Barros, poderia ter poupado este dia de júbilo de uma declaração tão inglória sobre diferenças de gênero no uso do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ele, os homens procuram menos o SUS por "uma questão de hábito, de cultura, até porque os homens trabalham mais, são os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para se dedicar à saúde preventiva."

A escorregada (feia!) na casca de banana se deu quando o ministro resolveu interpretar - e comentar! - de livre e espontânea vontade, uma pesquisa realizada pela Ouvidoria do Ministério da Saúde, para a qual foram entrevistados 6.141 homens cujas parceiras haviam feito parto pelo SUS. De acordo com o dados da pesquisa em questão, 31% dos homens entrevistados "não têm o hábito de ir às unidades de saúde para buscar auxílio na prevenção de doenças."

Curiosamente, ao se pronunciar sobre estes dados, o ministro acabou omitindo outros tão ou mais relevantes para entender (de verdade!) as diferenças de gênero no uso dos serviços públicos de saúde: "a maioria, ou 55%, justifica que 'nunca precisou', ou seja, que procura mais somente em casos urgentes e não para prevenção e cuidados contínuos." E mais: apenas 2,8% dos entrevistados alegaram que o horário de funcionamento dos serviços de saúde é um impeditivo para o seu usufruto.

De posse desses dados, sugiro ao ministro em questão uma profunda reflexão sobre seu lugar no universo, quiça sob a visão inspiradora da chuva de meteoros que cairá na próxima madrugada nas proximidades da Constelação de Perseu. Mas cuidado: como muitas de nós ficamos petrificadas com tamanha ignorância, é bem capaz de o semideus descer do firmamento para cortar-lhe a cabeça, a semelhança do que fez com a Medusa.


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