Estudos qualitativos sobre comportamento animal, que se utilizam de amostras reduzidas, são um tanto mais propensos a ataques e críticas metodológicas. Com este estudo conduzido no Japão sobre a reação de gatos ao chamado de seus donos não há de ser diferente: ele tira conclusões antipáticas sobre o comportamento dos felinos, o que, por si só, há de gerar alguma controvérsia, independentemente do rigor metodológico dos críticos.
Notícia publicada hoje no jornal
O Globo online aborda estudo que confirma que os gatos preferem a liberdade de "não pertencer a ninguém". É o que dá a entender um novo estudo da Universidade do Japão que prova "que, embora os gatos de estimação sejam mais do que capazes de
reconhecer a voz de seu dono, eles preferem ignorá-la, talvez por
razões ligadas à história evolutiva do animal", revela (
http://oglobo.globo.com/ciencia/gatos-reconhecem-voz-do-dono-mas-preferem-ignora-la-10900133).
A metodologia prevê a análise de reações comportamentais de gatos diante do chamado de distintas pessoas: "Conduzido por Atsuko Saito e Kazutaba Shinozuba, o estudo analisou como
20 gatos de estimação se comportam em suas casas quando seus donos estão
fora de vista. Eles mostraram a gravação de três estranhos chamando os
felinos. Depois, a voz do dono, fazendo a mesma coisa. Por último, mais
um estranho", completa.
A pesquisa - de cuja utilidade ainda não fui convencida - envolve a análise minuciosa de movimentos da orelha, cauda, cabeça, além da vocalização e da dilatação e deslocamentos dos olhos. E conclui que "gatos não mostram um comportamento
comunicativo aos donos que estejam fora de sua vista, mesmo que eles
consigam distinguir estas vozes." O que equivale a dizer que os gatos são intencionalmente dissimulados: "sei que você aí, mas finjo que não está."
Mas afinal, o que os gatos ganham com isso? Bem, pelo menos eles têm a vantagem de, contrariamente aos seres humanos, serem acusados de indiferença por razões meramente evolutivas: "O estudo, publicado na revista 'Springer in the Animal Cognition',
sugere que a razão para a falta de respostas do gato pode remeter à
origem de sua domesticação, ao contrário do que ocorreu com os
cachorros". Ou seja: para os autores, "os felinos 'se autodomesticaram' ", seja o que eles queiram dizer com isso.
Auto-domesticados
ou não, os gatos têm, no mínimo, uma outra grande vantagem com relação
aos seus donos: eles não perdem tempo com estudos inúteis com uma
pequena amostra de seres humanos. Assim é.