Viver em uma democracia de fato tem trazido cada vez mais desafios para o cidadão comum. Saber lidar com a diferença de estilo, opinião e perspectiva de vida, respeitando-os como se fossem nossos, constitui a pedra angular de um convívio pacífico entre grupos e coletividades heterogêneas, mas está longe de ser uma realidade plena.
Mas os desafios colocados pelos dissensos morais em ambiente democrático não param por aí. A mãe natureza também gosta de nos pregar peças e mostrar que a divergência de opiniões também pode acontecer entre iguais (pelo menos, entre aparentemente iguais).
Este é o caso das marmotas dissidentes dos estados da Pensilvânia e de Nova Iorque, nos EUA. "De acordo com a primeira, o inverno será mais curto, mas a colega da Pensilvânia acredita que a estação será mais longa" (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/2015/02/1584054-marmotas-em-desacordo-sobre-chegada-da-primavera-nos-estados-unidos.shtml).
Tradicionalmente consultadas no dia 02 de fevereiro, as marmotas têm seu comportamento observado e interpretado, sendo a elas imputada a responsabilidade de indicar o tempo de duração restante do inverno no hemisfério norte. De acordo com notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online,
a prática remonta a "uma velha lenda alemã", segundo a qual "se uma
marmota vê sua sombra em 2 de fevereiro, o inverno durará mais seis
semanas. Se não, a primavera chega mais cedo."
Para piorar o desacordo entre Phil (a marmota da Pensilvânia), que viu sua sombra pela manhã, e Chuck (a marmota de Nova Iorque), que não viu nada e não sabe de nada, uma terceira marmota entrou na jogada e resolveu tomar partido de uma das partes. Foi assim que a marmota Chuckles, de Connecticut, ganhou notoriedade nos jornais norte-americanos ao olhar para sua sombra e confirmar o prognóstico de um longo porvir invernal no hemisfério norte.
Bem, muito mais saudável do que alimentar a rivalidade entre marmotas será aguardar pacientemente o final do inverno, seja ele longo ou curto. Presságios à parte, prognóstico bom é prognóstico confirmado. Mas se querem uma solução definitiva para o dissenso das marmotas, basta vir para o Brasil e lançar oferendas para Iemanjá, neste mesmo ditoso 02 de fevereiro. Aqui, certamente, o mar estará descongelado.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
Dissenso
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