UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Tukdam

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Tukdam

Polêmica em torno da autenticidade da múmia de um monge budista, encontrada em janeiro deste ano, na Mongólia (http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/monge-mumificado-ha-200-anos-nao-esta-morto-defendem-budistas-15242742).

Não que a múmia não exista ou seja falsificada, no sentido mais restrito do termo. Segundo os especialistas consultados, a suposta múmia, datada de 200 anos, estaria "viva". Em outros termos, o corpo encontrado seria de um monge budista em estado de meditação há 200 anos.

A notícia, que fora anunciada pelo jornal Siberian Times e repercutida por "agências internacionais" (ainda que não se mencione quais, nem tampouco a autoria da foto da múmia), foi replicada pelo caderno de Ciência do jornal O Globo online, trazendo o depoimento de dois especialistas, com credenciais distintas, mas igualmente impressionáveis.

O primeiro deles, Barry Kerzin, é citado como sendo "o médico conhecido por cuidar do Dalai Lama". Ele sustenta que o monge encontrado mês passado encontra-se em um estado meditativo chamado "tudkam". Caso a pessoa se mantenha "neste estado por mais de três semanas — o que acontece raramente — seu corpo começa a encolher gradualmente e, no fim, tudo o que sobra da pessoa é seu cabelo, unha e roupas." E conclui: "É o estado mais próximo ao estado de Buda".

O segundo especialista consultado é Ganhugiyn Purevbata, professor do Instituto de Arte Budista da Mongólia. Ele alega, por sua vez, que o monge "está sentado na posição de lótus, com a mão esquerda aberta, e a direita simboliza a reza do Sutra." Segundo ele, "este é um sinal que o Lama não está morto, mas em meditação muito profunda, de acordo com tradições antigas dos Lamas budistas".

Apesar de ter atraído o interesse de um caderno de Ciência, a notícia foi amplamente "repercutida pela imprensa internacional", sem, contudo, ter "passado por revisão por publicações científicas." Até aí, nada de mais. O detalhe mais pitoresco, a meu ver, estava lá no rodapé da notícia: "O corpo do monge teria sido retirado de uma caverna na região de Kobdsk e armazenada em uma casa em Ulan Bator" e "estava prestes a ser vendida no mercado negro."

Uma vez preso o contrabandista e transportada a múmia até o Centro Nacional de Conhecimento Forense de Ulan Bator, resta agora verificar a hipótese de vida na referida múmia. Em caso positivo,  a melhor estratégia seria fingir de morto: ele certamente evitaria (entre várias outras coisas) a decepção de saber o preço dele no mercado negro.

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