UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Ignóbeis

sábado, 19 de setembro de 2015

Ignóbeis

A Ciência (com "c" maíusculo) costuma ser sisuda e raramente procura motivos para o riso - a não ser,  claro, que o riso seja seu próprio objeto de estudo.

Não é bem este o caso da 25ª edição do Ig Nobel, cerimônia promovida pela Universidade de Harvard para premiar "estudos que propõem abordagens e teses curiosas e pouco usuais, mas fazem parte da construção do conhecimento." No caso do Ig Nobel, o riso não é necessariamente objeto de estudo dos trabalhos contemplados em 12 áreas do conhecimento, mas uma consequência para quem toma conhecimento deles.

Explico: ao expor o caráter "pouco usual" dos estudos, o prêmio expõe seus autores e coautores ao ridículo, no sentido mais raso do termo - o que, de acordo com o Dicionário Houaiss, vem a ser "aquilo que provoca riso, escárnio ou zombaria". Basta ver o prêmio concedido aos vencedores de cada categoria: "os vencedores recebem um troféu e uma nota de dez trilhões de dólares do Zimbábue (a moeda, extinta este ano, tinha a cotação de 250 trilhões de dólares zimbabuanos por US$ 1) das mãos de verdadeiros laureados". Ou seja: para uma premiação de mentirinha, dinheiro de mentirinha.

Bem, se o objetivo real for mesmo o escárnio coletivo,  que interesse teriam os autores em participarem da premiação? Há, a meu ver, algo de mais insano nessa encenação toda: por mais que estejam presentes as estrelas do verdadeiro Prêmio Nobel, deve haver algo de muito mais sedutor do que simplesmente receber dinheiro de mentirinha da mão dos verdadeiros laureados.

Por fim, mais uma questão instigante levantada pelo Ig Nobel: se as conclusões desses 12 estudos realmente se prestarem ao ridículo, como continuar dando credibilidade aos pareceristas dos periódicos que revisaram esses trabalhos e às instituições que os financiaram?

Se a resposta não parece tão simples, pelo menos o riso há de ser garantido. Segue, logo abaixo, uma compilação dos ganhadores em cada área contemplada no concurso Ig Nobel, de acordo com notícia publicada hoje no jornal O Globo online:

Ig Nobel de Medicina: ganharam Hajime Kimata, diretor do Departamento de Alergia do Hospital Kyouwakai, em Osaka, no Japão, e Jaroslava Durdiaková , da Universidade Comenius, em Bratislava, na Eslováquia. "Kimata descobriu que o ato de beijar influencia as defesas contra alergias provocadas por pólen e ácaros. O estudo de Jaroslava demonstrou ser possível recuperar traços genéticos na saliva trocada durante o beijo".

Ig Nobel de Física: ganhou David Hu, que "descobriu que praticamente todos os mamíferos, não importa o tamanho, demoram o mesmo tempo para esvaziar a bexiga, aproximadamente 21 segundos".

Ig Nobel de Química: o vencedor é Gregory Weiss, que "descreveu uma nova técnica para 'descozinhar' ovos, que poderá ser usada não na culinária, mas no desenvolvimento de novas drogas pela indústria farmacêutica".

Ig Nobel de Administração: venceu Raghavendra Rau, "que descobriu que muitos empresários de sucesso desenvolveram o gosto pelo risco ao vivenciarem desastres naturais durante a infância, mas sem serem afetados diretamente".

Ig Nobel de Economia: a vencedora foi a Polícia Metropolitana de Bangkok, Tailândia, "por oferecer pagamento extra a policiais que rejeitarem suborno".

Ig Nobel de Matemática: quem venceu foi o trabalho liderado por Elisabeth Oberzaucher, "por tentar usar técnicas matemáticas para entender como Mulai Ismail, Imperador do Marrocos entre 1672 e 1727, conseguiu ser pai de 888 crianças".

Ig Nobel de Biologia: venceu Bruno Grossi, que "observou que uma galinha com um peso preso na parte traseira caminha como um dinossauro"

Ig Nobel de Medicina Diagnóstica: venceu Diallah Karim, que "descobriu que sentir dor ao passar por um quebra-molas indica a presença de uma apendicite aguda".
uído sem autorização. 

Ig Nobel de Fisiologia: os vencedores foram Justin Schmidt e Michael Smith, por seus estudos relacionados a dor. "Smith se doou ao trabalho, ao deixar ser picado por abelhas em 25 partes do corpo para descobrir onde as dores são menos (cabeça, ponta do dedo médio e braço) ou mais (narina, lábio superior e pênis) intensas".

Isso é o que eu chamo de observação participante!

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