UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Vestigial

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Vestigial

Hoje o dia foi de grandes surpresas. E das boas!

A primeira delas foi a descoberta de pulmão no celacanto, "imenso peixe, remanescente de épocas passadas quando os dinossauros habitavam o planeta". Os espécimes atuais do celacanto são hoje "encontrados em águas profundas do Oceano Índico, na costa leste do continente africano e na Indonésia, se alimentam de lulas e polvos e têm mandíbulas articuladas".  Até sua descoberta em 1938, muitos acreditavam que ele já estivesse extinto.

Mas as boas surpresas não param por aí. Contrariando uma tendência triste na cobertura de ciência no nosso país, o jornal O Globo online resolveu romper o padrão e entrar em contato direto com um dos autores do artigo - o que, por si só, já é uma grande conquista, pois raramente os autores dos estudos divulgados são entrevistados diretamente pelos jornais brasileiros. Fora isso, o artigo do O Globo teve a retidão jornalística de inserir um link para o artigo original, publicado ontem na revista Nature, outro hábito louvável raramente cultivado pela nossa cobertura de ciência.

Por fim, e não menos importante, temos a procedência do pesquisador pesquisado: o paleontólogo responsável, Paulo Brito, é pesquisador da Uerj e líder do estudo - o que também é outra raridade em termos de cobertura de diária de ciência pela grande imprensa, dado que os jornais daqui têm se contentado, via de regra, com os informantes consultados pelas agências de notícias (e isso - pasmem! - mesmo quando há brasileiros na equipe).


A presença de um pulmão vestigial no celacanto diz muito do seu processo de adaptação ao longos de milhões de anos. "Nos fósseis, o pulmão ocupa mais da metade da cavidade abdominal, o que mostra que os celacantos usavam o órgão para respirar. Isso indica que, no passado, esses peixes viviam em águas superficiais, provavelmente com baixos níveis de oxigenação. Na medida em que foram emigrando para águas mais profundas, o pulmão foi dando espaço a uma outra estrutura, uma bolsa gordurosa que ajuda o animal a controlar a flutuação nas profundezas do oceano".

No final das contas, ficou uma grata impressão: mesmo sendo "vestigial", uma cobertura minimamente adequada das fontes científicas não só é desejável, como também plenamente possível. Torçamos, porém, para que esse protocolo mínimo de cobertura das fontes de ciência não tenha o mesmo fim do pulmão do celacanto: ter tem, só que acabou.

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