UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Retrato póstumo

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Retrato póstumo

Retratos póstumos. Um deles foi feito para homenagear Antônio Francisco Lisboa, nosso popular Aleijadinho, considerado por muitos como o maior expoente da arte colonial brasileira.

Contudo, à semelhança do seu protagonista, seu retrato está envolto em um manto de mistério e controvérsias. A primeira delas refere-se à autoria do próprio retrato (um "óleo sobre pergaminho", para ser mais exata): inicialmente atribuída ao Mestre Ataíde, ela acabou sendo revista no Séc. XX e finalmente conferida ao pintor Euclásio Penna Ventura.

A segunda controvérsia diz respeito ao próprio caráter póstumo da obra, já que ela fora pintada após a morte de Aleijadinho, ocorrida no ano de 1814. Portanto, a morte de Aleijadinho antecedeu em pelo menos 25 anos a invenção do daguerreótipo, que ficou conhecido como o primeiro equipamento fotográfico fabricado em escala comercial da história.

Ora, se a fotografia enquanto tal ainda não existia - ou, pelo menos, associada a processos de fixação da imagem sobre material razoavelmente perene - a única saída viável para a produção de um retrato fidedigno seria a observação direta do seu referente. Mas como este já tinha passado desta para melhor, fica aqui o cerne de mais uma controvérsia: que cara tinha, afinal, Aleijadinho?

Em depoimento ao jornal Hoje em Dia online, Vinícius Duarte, historiador da Superintendência de Museus e Artes Visuais da Secretaria de Estado de Cultura, reconhece: "Essa obra é muito reproduzida em livros didáticos do Brasil inteiro. Não existe uma referência de como era o rosto de Aleijadinho." Ficamos, pois, com esta espécie de "genérico" do grande mestre do barroco mineiro, feita sabe-se como.

Nada disso, porém, desencorajou os defensores do retrato a reconhecer sua oficialidade em evento realizado hoje, 4a feira, no salão nobre da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, data em que também se comemora o Dia do Barroco Mineiro. Da Assembleia Legislativa, a pintura segue para o Museu Mineiro, em Belo Horizonte, e, de lá, para o Museu de Congonhas.

O mistério em torno de Aleijadinho e sua iconografia, contudo, persistirá ainda por um bom tempo. Afinal, quem, um dia, poderia imaginar que o maior ícone do barroco mineiro - escultor, entalhador e arquiteto de qualidade inquestionável - fora considerado, no seu tempo, um aleijado? E quem, nos dias de hoje, poderia imagina-lo sem rosto? 

"Mas aí você já está pedindo demais", alega o leitor conformado. Concordo plenamente. É muita informação nova para a tradicional família mineira.

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