UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Velório de corvo

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Velório de corvo

Experimentos são situações artificiais em que se busca testar algo, que tanto pode ser um fenômeno, como um artefato ou uma hipótese teórica específica. A amplitude da definição sugere, logo de saída, que existe experimento de tudo quanto é jeito e para tudo quanto é tipo de situação.

Por exemplo, um notícia publicada na Folha de S. Paulo online (mas traduzida do New York Times) de hoje busca entender a reação dos corvos à morte de um ente da mesma espécie. A situação artificial provocada pelo estudo envolve a interação de humanos com os corvos, mas de uma maneira bastante peculiar.

Primeiro, uma pessoa (no caso, a pesquisadora Kaeli N. Swift) atira ao chão amendoim e salgadinhos de queijo para reunir um grupo de corvos. Logo em seguida, uma segunda pessoa (um voluntário ou "cúmplice", nos termos da matéria), se aproxima do grupo com um máscara de látex (acredite: os corvos reconhecem rostos humanos e o estudo exige ano anonimato), um cartaz onde se lê "estudos de corvos UW" (University of Washington) em uma das mãos e um corvo empalhado na outra. A primeira pessoa (pesquisadora) observa e toma notas sobre o comportamento dos corvos a partir da chegada do companheiro falecido, conservado por taxidermia.

Ainda de acordo com a matéria, a pesquisadora em questão e seu orientador, John M. Marzluff, pretendem entender o "modo como os corvos parecem se reunir em bandos ruidosos em volta de colegas mortos". Mas o que pode haver de especial nisso?

Bem, o primeiro achado de pesquisa é um tanto quanto curioso: "Quase todas as vezes os corvos atacaram em bando os voluntários com o corvo morto" (um ataque "apavorante", nos termos da própria pesquisadora). Comparações ajudam a colocar a reação em perspectiva: "Mas se o voluntário estivesse levando uma pomba morta, os corvos só o atacavam cerca de 40% das vezes. E, se o voluntário chegasse de mãos vazias, os corvos simplesmente se afastavam até ele ir embora."

Essas evidências levaram a pesquisadora e seu orientador a concluírem, em artigo publicado na revista Animal Behavior do mês de novembro de 2015, "que os corvos prestam muita atenção a seus mortos para reunir informações sobre ameaças à sua própria segurança". Mas é a interpretação das reações do objeto de estudo que é um atrativo à parte: "A presença de um corvo morto talvez informe aos outros corvos que um lugar específico é perigoso. Os grasnidos altos das aves podem ser uma maneira de compartilhar informações com o resto de seu bando".

De fato, o experimento parece envolver um certo teor de perigo para os seres em observação. Afinal, amendoim e salgadinhos de queijo estão longe de ser uma dieta saudável para qualquer ser humano, o que dizer então para um corvo... 

No próximo experimento, sugiro mudar o cardápio e incluir uma dieta rica em fibras e produtos orgânicos...

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