UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Grandes predadores

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Grandes predadores

Nem sempre a ciência não é uma atividade solitária e competitiva, praticada no alto de uma torre de marfim. Muitas pesquisas se inspiram e se influenciam mutuamente, como parece ser o caso desta experiência com a reintrodução de estímulos sonoros de lobos nas ilhas da Colúmbia Britânica (Canadá), como forma de limitar o crescimento desordenado da população de guaxinins. Na ausência de seus grandes predadores, os lobos, os guaxinins já estavam ameaçando a existência de outras espécies, como "aves canoras, caranguejos e algumas espécies de peixes".

O experimento canadense, no entanto, se inspirou de outro similar, desenvolvido no Parque de Yellowstone (EUA), em meados dos anos 1990, quando espécimes de lobo foram reintroduzidos no parque para conter o crescimento desordenado dos alces, que acabava comprometendo a regeneração da floresta e de outras espécies que dela dependiam.

A cadeia de regeneração provocada pela reintrodução dos lobos no parque é tão ampla e maravilhosa que mais vale a pena dar logo uma olhada neste célebre vídeo que relata a experiência de Yellowstone, intitulado How the Wolves Change Rivers.



Muito resumidamente, ambas as experiências apostam no controle populacional de espécies intermediárias na cadeia alimentar, proporcionado pelos grandes predadores, conforme explica Justin Suraci, um dos co-autores do estudo desenvolvido nas ilhas da Colúmbia Britânica: "Observamos surtos populacionais de herbívoros como veados e alces e predadores menores, como coiotes e guaxinins. Estas espécies diminuem significativamente a diversidade e abundância das plantas e animais que consomem, porque não existe mais aquela criatura maior que os mantinha sob controle".

No caso dos guaxinins, a estratégia foi espalhar "pelas ilhas alto-falantes com o som dos antigos predadores — alguns comuns, outros raivosos". Por mais bizarra que possa parecer a simulação da presença do lobo no local, a tentativa parece ter dado seus resultados. "Foi o suficiente para que os 'soberanos' locais [os guaxinins] diminuíssem significativamente o seu tempo de caça e passeio a céu aberto. O medo repercutiu no ecossistema. As populações de peixes, agora menos perseguidas, voltaram a crescer".

O compartilhamento de experiências e inspirações entre cientistas, contudo, será de muito pouca serventia caso, algum dia, algum daqueles guaxinins descobrir que o lobo, de fato, jamais voltou ao local, desde que foi extinto há cerca de 40 anos. As consequências do fim da farsa com a voz do lobo são inestimáveis, mas uma coisa é certa:  cabeças irão rolar e alto-falantes também! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário