UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: As toupeiras e o infra-vermelho

sábado, 2 de abril de 2016

As toupeiras e o infra-vermelho

Qual a diferença entre a toupeira e um arqueólogo?

O método!

Pelo menos é o que nos ensina essa notícia publicada hoje no jornal O Globo online e que fala do rastreamento de um provável novo acampamento viking nas Américas.

Bem, que os Vikings já haviam estado nas Américas na era pré-colombiana, isso é de amplo conhecimento. Vestígios de acampamentos vikings, erguidos entre 1.000 e 1.500 d.C., já haviam sido comprovados na região da Terra Nova, no Canadá, desde a década de 1960.

A novidade, contudo, é método que foi utilizado para localizar o acampamento viking: "Sarah H. Parcak, uma especialista em uso de imagens de satélite na arqueologia, examinou imagens infravermelhas entre a Groenlândia e Massachusetts, no nordeste dos EUA. Encontrou centenas de locais possíveis, até que reduziu a lista para um alvo muito provável".  Este alvo se Point Rosee, um "penhasco gramado acima de uma praia rochosa na Terra Nova, quase 500 quilômetros ao sul de L'Anse aux Meados", que é o acampamento encontrado na década de 1960. 

Além de testes de carbono feitos nos materiais coletados no local, permitindo sua datação e posterior correlação com a presença dos Vikings, outras evidências foram coletadas no local: "As imagens do local mostravam altas quantidades de depósitos de ferro no solo, assim como trincheiras no solo que, quando escavadas, mostraram ser paredes de casas com marcas de cinzas, ferro pré-processado antes de ser usado por ferreiros, e uma grande rocha rachada usando fogo - todos sinais de metalurgia, desconhecida pelos nativos da região".

O rastreamento por imagens de satélite permitiu, no final das contas, a detecção de uma tecnologia totalmente incompatível com o modo de vida dos povos locais. É certo que as escavações (método arqueológico clássico) continuarão a ser efetuadas no próximo verão, mas elas dificilmente teriam sido feitas naquele local - isto é, a 500 quilômetros do sítio original - se já não tivessem sido identificadas pelas imagens em infra-vermelho.

Portanto, aquela velha máxima de que "o que os olhos não vêem o que coração não sente" continua valendo. A novidade aqui foi uma outra forma de "enxergar" as evidências, que passaram a ser rastreadas a partir de uma perspectiva superior, capaz de enxergar "através" das coisas. 

Vistas assim à distância, as imagens de satélite em infra-vermelho parecem um método muito mais eficiente do que simplesmente tocar a vida como toupeirinhas obstinadas, incansáveis, cavando a esmo o próprio destino. Olhar para a vida de cima, com olhos infra-vermelhos, talvez tornasse nossas escolhas mais acertadas. Em princípio, cavaríamos apenas em locais com fortes indícios de vida anterior e, por isso mesmo, com maior potencial de renascimento. 

Mas a verdade é que a vida de toupeira também tem lá o seu charme: ela cava o seu próprio caminho. E não tem arqueólogo nesse mundo que tenha tamanha prerrogativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário