UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Diálogo revelador

sábado, 9 de abril de 2016

Diálogo revelador

Estatísticas podem ser bastante interessantes, principalmente quando revelam uma dimensão até então oculta da realidade.

Bem, na realidade, nem tão oculta assim, pois já se suspeitava que a desigualdade de gênero rondava as produções de Hollywood. Mas depois que Matt Daniels e Hanah Anderson, do site Polygraph.com, resolveram investigar "quantidade de diálogos atribuídos a atores e atrizes" em mais de dois mil roteiros, a diferença atribuído aos gêneros ganhou uma nova proporção.

"Ao todo, 1195 filmes têm entre 60% e 90% dos diálogos pronunciados por homens". Já o número de filmes com maior presença de mulheres nesta mesma faixa é de apenas 166. "Acima da faixa de 90%, a disparidade fica ainda mais dramática — são 306 filmes em que a maioria das falas é dita por atores, contra apenas oito títulos em que as atrizes se destacam". Em termos mais concretos, é como se nos déssemos conta, por exemplo, de que "mais da metade dos diálogos de 'Frozen: Uma aventura congelante' (2013) é dublada por homens", mesmo  sabendo "que a produção se concentra em duas princesas".

Claro, os critérios de seleção e análise definem e limitam o corpus: em primeiro lugar, levou-se em conta a presença de diálogos escritos nos textos; em segundo lugar, "os personagens, independentemente do sexo, deveriam pronunciar pelo menos 100 palavras". Além disso, o fato de os homens ocuparem a maior parte dos diálogos não significa que a temática seja eminentemente masculina: "A maioria dos diálogos de "Mulan" (1998), por exemplo, é dublada por homens — o que não significa que a trama não gire em torno de uma personagem feminina". 

Só que as estatísticas também sabem ser irônicas quando querem. Explico: o que ninguém parece ter notado é que essas mesmas estatísticas acabaram provando algo totalmente inesperado: elas mostram, na prática, que as mulheres falam menos, mesmo quando são maioria nos filmes.

Isso, sim, é revelar uma dimensão oculta daquilo que supúnhamos ser nossa realidade absoluta.

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