Em princípio, você acreditaria estar lendo essa notícia em qualquer jornal de países com forte apelo fundamentalista no Oriente Médio. Mas não! Ela estava lá, estampadíssima na página do jornal O Globo online, redigida em bom português e acessível para quem navegasse por lá.
A notícia em questão fala de exigências abusivas que vêm sendo impostas aos candidatos - mas particularmente às candidatas - de um concurso público para o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Dentre as exigências (pasmem!), estão um exame papanicolau e o veto a candidatas com cicatrizes e tatuagens no corpo.
Com um detalhe: nos termos do edital, "só está dispensada do papanicolau, a 'candidata que possuir hímen íntegro' e 'desde que apresente atestado médico que comprove a referida condição' ". Além disso, "não só as marcas feitas de forma voluntária na pele estão proibidas, mas também cicatrizes cirúrgicas extensas no abdômen ou tórax ou aquelas deixadas por operações ortopédicas recentes nos membros, independentemente do tamanho".
As exigências, que constam em seis editais para cargos variados do órgão, foram (muito oportunamente) questionadas pelo advogado Rudi Cassel, especialista em direito aplicado aos concursos públicos. Ele "classifica a exigência do papanicolau ou atestado de virgindade como um requisito abusivo, que, além de violar a privacidade da candidata, colocando-a em situação vexatória, é pouco eficaz para os anseios da Administração Pública".
Enquanto a Agência Brasileira de Inteligência se esmera em municiar os brasileiros com descrições vagas e estereotipadas de possíveis suspeitos de terrorismo, o fundamentalismo vai grassando pelas instâncias públicas do nosso país. Com a diferença de que, nesse caso para lá de infeliz, quem vai tomar bomba são as candidatas ao Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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