UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Amigo de todos

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Amigo de todos

Ok, vou falar de mais uma notícia sobre descobertas arqueológicas. Mas que culpa tenho eu se o presente anda meio sombrio e o futuro a Deus, Buda e Maomé pertence? Dá mais onda falar do passado. Ou melhor: falar do presente tentando explicar o passado, pois é disso que a Arqueologia gosta.

Na verdade, a notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online é mais uma promessa do qualquer outra coisa. Para ser justa, vou explicar melhor: ela aborda uma descoberta que pode ajudar a entender um artefato que até então era considerado um enigma.

Para ser menos enigmática e explicar melhor ainda, o enigma em questão nada mais é do que uma descoberta anterior, realizada em 1900, nas imediações da ilha grega de Symi, conhecida como mecanismo de Anticitera. Descoberto há 2000 anos atrás, o mecanismo é supostamente " o 'primeiro computador criado pela raça humana', tal como descreveram seus descobridores", e tinha, ao que tudo indica, finalidade astronômica, "como rastrear complexos movimentos da Lua e dos planetas".

E a tal da nova descoberta - que emplacou um artigo publicado na revista Nature desta semana - envolve a recuperação de "restos de um esqueleto humano localizado em um barco naufragado" na mesmíssima ilha. Os ossos, que estavam em excelente estado de conservação, permitiram aos pesquisadores envolvidos decifrarem alguns elementos do seu informante - doravante nomeado "Pamphilos, que, em grego, significa 'amigos de todos' ": trata-se de um homem que faleceu ainda jovem, com idade em torno de 20 anos.

De resto mesmo, a notícia só faz promessas. "Segundo os pesquisadores, futuros exames de DNA poderiam ajudar a desvendar alguns dos mistérios que envolvem o mecanismo de Anticitera, como a origem geográfica dos ancestrais de Pamphilos e, portanto, do artefato". Acharam pouco? A notícia também alega que "também seria possível saber detalhes físicos do jovem (cor de pele e olhos, por exemplo) e até que tipo de atividades ele realizava ou quais condições de vida tinha devido ao estado de seus ossos".

A descoberta de Pamphilos trouxe, portanto, muitas expectativas para um futuro não muito longínquo. Agora, se Pamphilos conhecia, de fato, o tal mecanismo de Anticitera, isso já é outra história. Talvez ela ainda valha outro artigo na Nature e a luz nos holofotes das agências de notícias internacionais (a propósito, esta notícia é da BBC Brasil).

Na piorzíssima das hipóteses, Pamphilos já "nasceu" nosso amigo e nem a nossa descrença no presente poderia abalar essa convicção. Pior seria se já nascêssemos descrentes no passado, pois, quanto a isso, nem a Arqueologia conseguiria fazer muita coisa.

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