UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Elizabeth e Napoleão

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Elizabeth e Napoleão

Parece surto psicótico - e pode até ser! - mas as consequências políticas disso são incalculáveis.

Em discurso raivoso feito na sede do Ministério do Interior hoje, o premier britânico David Cameron diz querer "tornar o Reino Unido 'um país menos atraente para as pessoas que chegarem para trabalhar ilegalmente'." (http://oglobo.globo.com/mundo/imigracao-bate-recorde-no-reino-unido-cameron-propoe-confiscar-salarios-de-imigrantes-16221122).

Para realizar seu intento, Cameron anunciou hoje um projeto de lei contendo medidas enérgicas para conter o aumento de imigrantes legais, projeto este que será anunciado na semana que vem, em um discurso que será lido pela rainha Elizabeth.

Para variar, o "problema" da imigração não é apenas o imigrante em si, mas a origem dele: "Com 641 mil pessoas chegando ao país em 2014 (contra 323 mil saindo), o último número trimestral de não-europeus chegando (42 mil) se aproximou do de europeus (67 mil)", relata notícia publicada hoje no jornal O Globo online. Conclusão: além do crescimento do número de imigrantes em termos absolutos, a aproximação recente entre o número de "europeus" e de "não-europeus" fez o caldo entornar ainda mais.

Algumas dessas medidas, contudo, contém um quê de inovação:"Uma das propostas é confiscar salários de imigrantes que chegaram por vias consideradas ilegais ou estendem sua vinda ilegalmente". Ou seja, juridicamente falando, o projeto de lei do premier britânico vai, entre outras mazelas, terminar por legalizar o trabalho escravo: afinal, quem trabalha de graça é ou não é escravo?

Medidas dessa natureza mereciam, no mínimo, terem sido polemizadas pelo nosso noticiário local, o que não foi o caso. Esqueceram de dizer, por exemplo, que o trabalho ilegal é altamente rentável para o sistema capitalista de mercado. Confiscar o salário de imigrantes ilegais é somente uma forma descarada de aumentar o lucro em cima deles, duplicando os ganhos com a exploração de mão-de-obra barata que, além de trabalhar em situação de vulnerabilidade e insalubridade, podem ser ainda expropriados do pagamento pelo próprio trabalho.

Depois dessa, não ficarei admirada se vir a rainha Elizabeth discursando com o chapeuzinho de Napoleão Bonaparte, outro monarca surtado que conseguiu restabelecer a escravidão no seu país, mesmo depois de abolida. Nesse contexto de caos humanitário,  o dito projeto de lei terá tido ao menos o mérito de ter aproximado monarcas europeus de países com longo passado de rivalidade.

Já quanto aos não-europeus...

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