Se tinha uma palavra que andava meio fora de moda era a tal da utopia. Muito provavelmente, isso se deve ao fato de ela ser o polo oposto do pragmatismo político dominante no País das Mil e Uma Plásticas (também conhecido como Brasil).
Pois bem. Quando digo que ela "andava" é porque existem pessoas como o sul-africano Elon Reeve Musk que parecem dispostas a resgatar o termo do limbo e aplicá-lo às projeções de um futuro próximo. Musk é responsável pelo lançamento das chamadas Powerwalls no mercado norte-americano, que são baterias capazes de "aprisionar a energia limpa e ininterrupta do Sol numa caixa discreta e elegante" de apenas 130cm (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2015/05/1626248-nova-bateria-promete-criar-casas-autonomas.shtml).
Fabricadas pela Tesla, as baterias de Musk são capazes não apenas de captar e armazenar uma quantidade excelente de eletricidade a partir da luz solar, como também de reinjetar o excedente de energia gerado no sistema elétrico geral. "Ao caprichar no preço e no desenho, porém, Musk pretende uma reviravolta
tecnológica: a era da geração distribuída baseada em energia solar. De
simples consumidores de eletricidade, todos viram também produtores", explica a notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo.
A versão de mundo utópica de Musk prevê que as "Powerwalls se espalharão pelo mundo conectadas com painéis
fotovoltaicos, que convertem a luz solar em eletricidade". E ele não para por aí. O inventor da bateria acredita que "2 bilhões de Powerpacks poderiam fornecer toda a
energia hoje utilizada no mundo, o que cortaria emissões de CO2
e desaceleraria a mudança do clima".
Mesmo reconhecendo que 2 bilhões "é muita bateria" ou o equivalente ao número "aproximado de veículos
automotores rodando no planeta", Musk acredita que "está no alcance da humanidade fazer
isso". Faltou apenas ele explicar, contudo, qual o tempo de vida útil dessas baterias e que impacto ambiental resultaria de seu descarte, uma vez terminada a vida útil do produto. Afinal de contas, toda utopia que se preze tem lá o seu custo operacional...
Enfim, enquanto essas perguntas não são respondidas, fico por aqui me perguntando sobre o que é pior: viver em um mundo cínico e totalmente desprovido de utopia ou acreditar que ela possa ser restaurada pelas mais belas estratégias de mercado.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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