UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Colombianas - Parte 2: ilhas de San Andrés e La Providencia

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Colombianas - Parte 2: ilhas de San Andrés e La Providencia

Uma vez cumpridas (e com louvor) as obrigações acadêmicas previstas para Medellín, chegou a hora de encontrar aconchego debaixo da asa da "mamãe avião" e subir rumo ao próximo destino: ilhas de San Andrés e La Providencia, região do Caribe colombiano.

As duas ilhas têm um precedente cultural que as torna bastante distintas da região continental da Colômbia: elas foram colonizadas por britânicos, mais precisamente por corsários britânicos como o lendário Henry Morgan (um voraz saqueador de colônias espanholas que viveu no Caribe no início do séc XVII). Esta particularidade fez com que os escravos jamaicanos, trazidos para trabalhar nas lavouras de tabaco e algodão, dessem origem à chamada cultura Raizal, com língua, comida, feições e temperos próprios. Hoje, contudo, esse grupo étnico afro-caribenho fala espanhol muito bem, obrigada, porque, afinal de contas, as ilhas são destinações turísticas baladas da Colômbia.

Mas não exatamente da mesma forma. San Andrés e La Providencia tem vybes totalmente distintas. A única coisa parecida é o mar do Caribe, com seu azul generoso e transparência infinita, capaz de fazer você subestimar em muitos e muitos metros a profundidade do mar por onde nada alegremente com o seu snorkel comprável a R$ 20 realitos (modelito mais básico, sem firulas). De resto, nada a ver.

Para comparar as vybes das duas ilhas: esta é uma praia de San Andrés.

E esta é uma praia de La Providencia.

San Andrés é uma pérola caribenha maculada por preços extorsivos e serviço ruim, precário, quando muito desonesto. Infelizmente, como planejava ficar pouco na ilha, optei por me hospedar no ó do borogodó, o que me rendeu uma sequência de três noites maldormidas por conta do barulho do hóspedes do hostel (péeeeeesimo!). Fora o hostel, esse cantinho norte da ilha de San Andrés é mesmo barulhento, uma espécie de Porto Seguro versão família, compactada em algumas poucas quadras, com uma zona franca bem fraca (não tinha equipamentos fotográficos Canon, ora vejam só) e praias tão lindas quanto superlotadas. Felizmente, tem gente boa em qualquer canto do mundo, de modo que Andrea, Juan Pablo e Érica foram excelentes companhias por esses dias.

Resumidamente, os quatro dias não consecutivos passados em San Andrés me valeram uma GOPRO Hero 4 com preço bastante vantajoso, um mergulho com cilindros (paguei por 4 horas, mas só durou 3), café decente (mérito da Colômbia continental), um passeio a um maravilhoso aquário a céu aberto, onde extorsionários alugavam snorkel,  guarda-volumes e sapatilhas aquáticas para que as pessoas sapateassem com mais vigor e disposição sobre os pobres corais indefesos. Consciência ecológica do impacto ambiental daquela multidão de sapateadores de corais? Deve ter sido levada para bem longe pelos primeiros corsários ingleses.

Mergulho de boas-vindas logo na primeira manhã em San Andrés. Perfeito se não tivesse durado uma hora a menos.
Esta imagem do Aquário é uma boa síntese de San Andrés: praias superpovoadas, cercadas de um mar de uma cor sem explicação.


Bem, se eu quisesse praia cheia, teria ido para Copacabana e não para o Caribe colombiano. Razão pela qual eu dei um jeito de comprar uma passagem e viajar de "avioneta" (termo que eles usam para designar um aviãozinho de 20 lugares) para La Providencia. O conjunto da obra passagem-hospedagem-traslado-alimentação não ficou uma bagatela, mas o que eu encontrei em La Providencia não tem preço: sossego autêntico e irrestrito.

Vista aérea do mar da ilha La Providencia



Sossego despovoado: essa La Providencia é mesmo o paraíso!


O sossego de La Providencia não conhece limites. Quer desfrutar de um passeio de bicicleta pelos 18km de circunferência da ilha? Esqueça o cadeado, lá não precisa. "Aqui todo mundo se conhece", me explicaram, em uníssono, o motorista do táxi, a funcionário do hotel, o funcionário que me alugou a bicicleta. Quer admirar uma praia deserta, sem o assédio de ambulantes? Pois esta ilha é o lugar ideal. Ninguém te aborda, ninguém te perturba, mas todos, sem exceção, foram corteses, polidos e respeitosos quando solicitados para dar alguma informação.

 Para fechar o relato com chave de ouro, vou contar rapidamente um evento interessante que me aconteceu em La Providencia. Estava eu com a bicicleta alugada até às 21h quando, por volta de 18h30, decido pegar a estrada e fazer um percurso de uns 15 minutos de bicicleta até um café-restaurante bastante recomendado pelo guia Lonely Planet. Como os postes era numerosos no caminho, não me preocupei em levar lanterna. Ainda estava claro quando saí, mas a noite havia caído totalmente quando decidi voltar ao hotel para devolver a bicicleta. Para a minha surpresa, vários daqueles postes estavam apagados e a estrada estava um breu total.

Nessa hora, eu tive medo. Medo de colisão, pois os nativos iam e vinham de moto, e as luzes acesas dos faróis diminuiam minha visibilidade. Medo de atropelar um caranguejo, pois eles estavam em período de desova no mar, descendo da montanha e atravessando a pista em filas indianas. Medo de ser interceptada na parte mais escura do caminho, pois, afinal, eu estava na Colômbia, e a Colômbia faz parte da América Latina. De repente, em uma parte bastante escura da estrada, passo por um grupo estacionado na beira da estrada, ao lado de uma caminhonete. Não deu para ver muita coisa no escuro, mas parecia que eles estavam trocando um pneu da caminhonete. Logo após minha passagem por eles, uma moto é ligada e começa a me seguir, permanecendo logo atrás de mim.

A moto não fez nada mais do que permanecer na mesma posição, iluminando meu caminho, até que eu chegasse na parte totalmente iluminada da estrada. Em seguida, ela passou por mim e eu agradeci. Era uma moça com um menino na garupa. Um sinal claro de que temos que confiar com mais frequência na guiança da Divina Providência.

Matando saudades de umas boas pedaladas na Ilha da Providência.




Ilha da Providencia vista do seu pico.

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