Total falta de graça!
Facebook publica "estudo" (perdão, mas as aspas são necessárias) sobre as formas pelas quais as pessoas expressam riso ou gargalhada na Internet e conclui: "a maneira como as pessoas riem on-line está mudando."
O estudo em questão conclui, entre outras coisas, que "a forma mais comum de as pessoas
gargalharem em comentários na internet é escrevendo 'hahaha' e suas
variações como 'haha' ou 'haaahhahaha' ". Esta última forma (e suas variantes) foram responsáveis por 51,4% dos casos de riso no Facebook, ao passo que os emojis (aqueles ícones com expressões faciais) amargaram um reles 33,7%, dos casos.
Só que a graça acaba justamente quando descobrimos os possíveis loci para coleta de dados: "Para chegar a esse resultado, o site de Mark Zuckerberg analisou
mensagens e comentários publicados na última semana de maio que
continham risadas". Pois bem, quais mensagens foram efetivamente analisadas e quais ficaram de fora? Ao que parece, não foram consultadas as mensagens privadas trocadas no Messenger. De qualquer forma, não é nada animador saber que um robô é capaz de rastrear suas conversas mais ou menos públicas, mesmo se cada um pode supostamente controlar a "visibilidade" dada aos seus comentários nesta rede social, por meio de alterações em suas configurações pessoais.
Além de colocar em dúvida o nível de privacidade do usuário que é respeitado em "estudos" dessa natureza (sempre com aspas, por favor), é inegável que tal estudo possui um certo viés etnocêntrico, sob a alegação de que se "usou dados recolhidos no mundo inteiro, embora tenha dado prioridade aos países de língua inglesa".
Por fim, fica a cargo do leitor uma profunda reflexão sobre a relevância dos dados levantados pelo "estudo" (não, não me esqueço das aspas). Por meio da notícia da Folha de S. Paulo online, ficamos sabendo que o famoso LOL (contração da expressão "laugh out loud" e equivalente a "rindo alto"), muito popular nos primórdios das convenções internéticas, esteve presente em apenas 1,9% dos casos de risada; que o usual "kkkkkkkk" brasileiro não entrou na amostra, visto que a prioridade foi dada aos países de língua inglesa; e que "os emojis são mais comuns em Nova York, enquanto quem mora em Boston prefere o 'hahaha'."
Realmente, ainda estou na dúvida sobre o que eu ganho ao saber que a cidade de Boston foi toda "hahahaha" na semana passada. Das duas, uma: ou sofro de mau humor crônico ou estamos vivenciando uma total carência de motivos realmente mais saudáveis para sorrir.
Ok, reconheço: uma opção não exclui a outra, rsrsrs... mesmo sabendo que esse "rsrsrs" jamais vai entrar na amostra do "estudo" do Facebook.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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