UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Graça nenhuma

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Graça nenhuma

Total falta de graça!

Facebook publica "estudo" (perdão, mas as aspas são necessárias) sobre as formas pelas quais as pessoas expressam riso ou gargalhada na Internet e conclui: "a maneira como as pessoas riem on-line está mudando."

O estudo em questão conclui, entre outras coisas, que "a forma mais comum de as pessoas gargalharem em comentários na internet é escrevendo 'hahaha' e suas variações como 'haha' ou 'haaahhahaha' ".  Esta última forma (e suas variantes) foram responsáveis por 51,4% dos casos de riso no Facebook, ao passo que os emojis (aqueles ícones com expressões faciais) amargaram um reles 33,7%, dos casos.

Só que a graça acaba justamente quando descobrimos os possíveis loci para coleta de dados: "Para chegar a esse resultado, o site de Mark Zuckerberg analisou mensagens e comentários publicados na última semana de maio que continham risadas". Pois bem, quais mensagens foram efetivamente analisadas e quais ficaram de fora? Ao que parece, não foram consultadas as mensagens privadas trocadas no Messenger. De qualquer forma, não é nada animador saber que um robô é capaz de rastrear suas conversas mais ou menos públicas, mesmo se cada um pode supostamente controlar a "visibilidade" dada aos seus comentários nesta rede social, por meio de alterações em suas configurações pessoais.

Além de colocar em dúvida o nível de privacidade do usuário que é respeitado em "estudos" dessa natureza (sempre com aspas, por favor), é inegável que tal estudo possui um certo viés etnocêntrico, sob a alegação de que se "usou dados recolhidos no mundo inteiro, embora tenha dado prioridade aos países de língua inglesa".

Por fim, fica a cargo do leitor uma profunda reflexão sobre a relevância dos dados levantados pelo "estudo" (não, não me esqueço das aspas). Por meio da notícia da Folha de S. Paulo online, ficamos sabendo que o famoso LOL (contração da expressão "laugh out loud" e equivalente a "rindo alto"), muito popular nos primórdios das convenções internéticas, esteve presente em apenas 1,9% dos casos de risada; que o usual "kkkkkkkk" brasileiro não entrou na amostra, visto que a prioridade foi dada aos países de língua inglesa; e que "os emojis são mais comuns em Nova York, enquanto quem mora em Boston prefere o 'hahaha'."

 Realmente, ainda estou na dúvida sobre o que eu ganho ao saber que a cidade de Boston foi toda "hahahaha" na semana passada. Das duas, uma: ou sofro de mau humor crônico ou estamos vivenciando uma total carência de motivos realmente mais saudáveis para sorrir.

Ok, reconheço: uma opção não exclui a outra, rsrsrs... mesmo sabendo que esse "rsrsrs" jamais vai entrar na amostra do "estudo" do Facebook.

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