Ninguém nunca tinha se dado conta delas até o último fim de semana, quando parece ter havido um ataque orquestrado no Reino Unido.
E não, não se trata, desta vez, de nenhuma atriz com dependência química tendo ataques de histeria. A primeira diferença deste ataque é que ele foi impetrado por uma série de aranhas "grandes e muito agressivas" , que acabaram ganhando rapidamente notoriedade na redes sociais daquele país.
De acordo com notícia publicada hoje no jornal O Globo online, tudo começou do grito de guerra de uma das vítimas ou, nos termos da própria notícia, "depois que o jornalista Damian Barr encontrou uma em casa e publicou as
imagens do aracnídeo em seu Twitter". Dali por diante, foi a histeria coletiva: "muitos outros britânicos também
relataram terem encontrado animais semelhantes durante o último fim de
semana".
Bem, até aqui, nada realmente demais. A segunda notória diferença não está no ataque, mas no relato do ataque. Trocando em miúdos: notória é a maneira como a notícia publicada no O Globo reproduz bestamente uma sequência de imagens de tweets postados, com fotos-denúncias e relatos de ataques residenciais.
E qual a novidade disso? Bem, no mínimo, significa que o jornalista passou a etapa da apuração sentado confortavelmente em sua cadeira de trabalho e pouco fez para se deslocar da sua idílica mesa de trabalho até o local do ataque (por sinal, em outro continente). Mas para quê tanto esforço, afinal de contas? Com tanto internauta afoito para emplacar um top trend, basta dar-lhes a honra de ter seus tweets divulgados em escala planetária... Só que, como tudo na vida, há também que se considerar o efeito colateral dessa preguiça redacional. Pois tente agora descobrir, na notícia publicada em O Globo,
em quais cidades ou bairros ocorreram os ataques.
Que estranho está ficando esse mundo da notícia veloz, quase instantânea. Entrevista presencial já virou peça de antiquário. E o deslocamento do jornalista para entrar em contato com determinada realidade acaba sendo, na melhor da hipóteses, um deslocamento entre a sala de redação e o banheiro da empresa jornalística. Bela receita para reproduzir sua própria realidade e para não sair de si mesmo. Quiçá, nunca mais!
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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