UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Ventre livre

sábado, 22 de agosto de 2015

Ventre livre

Lembram da famosa Lei do Ventre Livre, aquela que tornava libertos os filhos de escravas que nascessem a partir do dia da sua promulgação? Pois é, ela está precisando ser reeditada urgentemente no país!

A razão para a reedição da lei vem à tona com a divulgação da Pesquisa Nacional de Saúde, ocorrida hoje, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa revela que "metade [53,5%] dos partos por cirurgia cesariana no Brasil ocorre com dia e hora marcados", o que joga por terra a tese de que as cesáreas sejam medidas emergenciais para salvaguardar a vida do bebê e da mãe.

Aliás, o ventre das brasileiras é dos menos livres do mundo. Ainda de acordo com dados divulgados pela pesquisa, "54,7% dos nascimentos ocorridos entre janeiro de 2012 e julho de 2013 ocorreram por meio da cirurgia, enquanto o percentual de partos normais é de 45,3%. A orientação da OMS (Organização Mundial de Saúde) é que a proporção de partos normais seja de 80% dos nascimentos".

E quem mantém os nossos ventres em cárcere privado? Bem, a começar pelas próprias maternidades privadas que, sozinhas, são responsáveis por 74,2% das cesáreas, contra os 35,8% que acontecem no sistema público.

Mas as maternidades não são responsáveis, sozinhas, pelo cerceamento dos fetos de um nascimento mais saudável e natural: "11,8% das cesáreas ocorrem porque a mulher não quer sentir as dores do parto". Além disso, "percentual semelhantes (sic!), de 11,3%, ocorreu por escolha do médico durante o pré-natal".

Mais uma vez, não custa lembrar que a orientação para o parto normal não deveria nem ser discutida, já que ele "é a indicação mais natural do corpo humano de que o bebê está completamente desenvolvido e pronto para vir ao mundo". Dizer que os partos por cesáreas deveriam ter caráter absolutamente excepcional é chover no molhado, já que os "especialistas afirmam que a cesárea marcada favorece o nascimento de crianças prematuras".

Enfim, a situação no Brasil é tão alarmante que ainda chegará o dia em que precisaremos obrigar, por lei, médicos, maternidades e mulheres a repensarem suas prioridades. Até lá,  só nos resta orar pela emancipação dos ventres da ignorância generalizada.

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