UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Anticonstitucionalissimamente

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Anticonstitucionalissimamente

Homologias têm lá sua utilidade. Em uma dada comparação, elas são capazes de  ressaltar relações de equivalência entre dois corpos sem, com isto, pressupor total semelhança entre eles.

A meu ver, somente uma homologia daria a dimensão da perda pela qual a língua alemã acaba de passar. Segundo notícia publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo online, "o idioma alemão perdeu sua mais longa palavra graças a uma mudança numa lei de conformidade da União Europeia (UE)" (http://f5.folha.uol.com.br/estranho/2013/06/1289438-alemanha-abandona-uso-de-sua-palavra-mais-longa.shtml).

A palavra em questão é "Rindfleischetikettierungsueberwachungsaufgabenuebertragungsgesetz" e havia sido introduzida no Estado de Mecklenburg-Oeste Pomerania, em 1999, para significar "lei que delega monitoramento de rotulação de carne". Guardadas as devidas proporções (coisa que a homologia sabe fazer muito bem), é como se a língua portuguesa perdesse, da noite para o dia, a palavra "anticonstitucionalissimamente" pelo simples fato de não mais existir Constituição.

No caso alemão, as mudanças no cenário jurídico da União Europeia, particularmente no que se refere à regulamentação de testes em gado de corte, forçaram o abandono do termo. Ainda segundo a notícia, a palavra, com seus 64 caracteres, "foi criada para ser usada no contexto dos esforços para combater a chamada 'doença da vaca louca' ", mas que "depois que a UE pediu o fim dos testes em gado saudável nos abatedouros europeus, a palavra saiu de uso".

A tese do desuso jurídico é, sem dúvida, aquela que mais ecoa na versão "oficial" dos fatos. Mas uma versão fantasiosa, que acabo de fabricar, sugere que o abandono é resultado da pressão exercida pelos usuários do Twitter, principalmente os usuários gagos: basta repetir a palavra duas vezes e pedir desculpas logo em seguida que lá se vão todos os caracteres disponíveis e um novo tweet deve ser composto.

Pelo sim, pelo não, tenho certeza de que as crianças em idade de alfabetização também se beneficiarão imensamente pelo desuso jurídico. 

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