UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Música quadrada

quinta-feira, 19 de março de 2015

Música quadrada

Seriam os discos quadrados a mais nova classe de "genéricos" da indústria fonográfica?

Em tempos de crise vividos por mídias digitais, tais como os CDs, acusadas a torto e a direito de obsolescência, uma dupla de amigos de São Paulo faz "pequenas tiragens de LPs em três formatos diferentes", relata notícia publicada na Folha de S. Paulo de hoje  (http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2015/03/1602354-dupla-grava-vinis-em-maquinas-raras-e-produz-discos-quadrados-em-sp.shtml).

Com o auxílio de uma máquina da marca Neumann, fabricada na década de 1950, Arthur Joly e Bruno Borges movimentam a empresa Vinyl Lab que, além de reproduzir gravações com baixa fidelidade  - pasmem! - é capaz também de fabricar LPs quadrados. A Vinyl Lab oferece um modelito excêntrico, mas atraente: "o disco quadrado custa R$ 20 a unidade e também faz papel de quadro, com desenhos que podem ser gravados em sua superfície." 

A nova classe de genéricos dos antigos LPs de vinil de têm, portanto, uma característica interessante: como todo genérico de medicamentos, serve para o mesmo fim que o seu original; mas, ao contrário deste, costuma ser um tanto mais caro do que o seu original redondo. 

Bem, não deveria ser, visto nele não estão embutidos gastos com publicidade. De qualquer forma, o consumo de música de vanguarda em formato quadrado não deve trazer danos à saúde, nem tampouco prejudicar a carreira dos músicos mais vanguardistas que optarem pelo formato quadrado. 

E há quem já faça planos futuros com o genérico do nosso antigo LP. De acordo com o músico Curumin, cujo depoimento figura na notícia supracitada, o som em vinil "éum som mais sujo", razão pela qual ele agora pensa "em usar esse tipo de gravação para produzir som com uma tonalidade diferente." 

Minha suspeita, no final das contas, é a de que o disco quadrado há de se tornar muito em breve uma relíquia de valor inestimável, principalmente para quem gosta de inventar moda. Ou então, para quem não inventa moda alguma e prefere apenas surfar na onda dos saudosistas. Tanto faz como tanto fez: como bom genérico, o que importa é o seu "princípio ativo", isto é, a música de boa qualidade.

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