UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Paleta científica

segunda-feira, 9 de março de 2015

Paleta científica

Comentário breve e despretensioso, para não atrapalhar o sono de ninguém logo no início da semana.

Se nos fiarmos pela notícia publicada hoje na Folha de S. Paulo, a grande dúvida existencial que paira sobre as mentes atormentadas, neste momento, parece ser o destino da paleta mexicana: "Depois de as paletas mexicanas terem virado febre em 2014, há quem aposte que a moda dos picolés de 120 gramas vai começar a derreter no inverno deste ano", alerta a notícia (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1599994-depois-da-febre-paleteria-mexicana-passa-por-teste-de-sobrevivencia.shtml).

Como o tema foi foco de controvérsia, o jornalista da Folha não deixou por menos: coletou o depoimento de nada mais nada menos do que quatro informantes diferentes para discutir o suposto do destino da paleta mexicana. Tamanho empenho na apuração - um tanto contrastante com o tamanho do picolezinho - me faz pensar na relevância do destino da paleta para a Humanidade. 

Pois, neste mundão grande sem porteira, o que me preocupa, de fato, é o destino jornalístico da nossa cobertura de ciência. As matérias de ciências, coitadinhas, não têm metade do prestígio da notícia sobre o triste destino das paletas mexicanas. Como elas já vêm, em sua grande maioria, mastigadas pelas agências internacionais de notícias (Reuters, AFP, BBC, etc), acabam demandando pouco ou quase nenhum esforço de apuração. É como se o texto da agência fosse replicado nos diversos jornais, sem grandes margens para dúvidas ou apuração local.

Bem, se não há esforço de buscar informações diretamente junto às fontes, o jeito é nivelar pelo conteúdo oferecido pela agência. Sobra espaço para a opinião de cientistas e pesquisadores nas matérias de ciência? Quando muito, devidamente filtrados pelo texto da agência. Busca-se informantes locais? Quando muito, para comentar os achados de pesquisa dos países do Hemisfério Norte. E as citações diretas, entre aspas, ainda existem? Estão todas ameaçadas de extinção, juntamente com as controvérsias e os temas de relevância, com impacto direto na vida coletiva.

Aliás, se a coisa continuar desse jeito e o jornalismo de ciência acabar morrendo de inanição, ninguém vai ligar! O importante é sobrar paleta mexicana até o inverno de 2015. Isso, sim, é tema capaz de causar comoções intestinas.   

 

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