Na semana em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, eis que sopram algumas lufadas de ar fresco diretamente da capital paulista.
Sim, meus caros, ao que parece, a cidade de São Paulo conhecerá dias mais livres, pelo menos no que diz respeito à circulação de pedestres e veículos em ruas fechadas. Tudo em decorrência de sábia decisão da prefeitura de São Paulo, que convoca moradores a removerem obstáculos à passagem de pessoas e veículos.
"Segundo a Secretaria de Coordenação de Subprefeituras, a lei municipal que permitia o fechamento de vilas, ruas sem saída e vias com características de 'rua sem saída' foi julgada inconstitucionais (sic!) pelo Tribunal de Justiça de São Paulo", relata notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/03/1602065-prefeitura-manda-moradores-tirarem-portoes-em-ruas-fechadas-de-sp.shtml).
Em termos práticos, a inconstitucionalidade da lei faz com que novos bloqueios sejam proibidos e que os antigos estão sejam revistos. Ou seja, menos feudos e mais circulação em uma cidade que conhece muito bem a força do capital privado.
Mas alguém há de argumentar: e a violência, como fica? Deve o morador de vilas e ruas fechadas ficar à mercê dos mal-intencionados de plantão?
Ora, se nos fiarmos nas estatísticas sobre a violência contra a mulher, temos boas razões para querer retirar obstáculos à circulação de pessoas. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e
Estudos Socioeconômicos (DIEESE), 40% das mulheres brasileiras já sofrera violência doméstica em algum momento de sua vida (http://www.ovalentenaoeviolento.org.br/artigo/73/Dados-sobre-violencia-contra-mulheres-e-meninas).
Outros dados publicados em 2013 pelo Datasenado reiteram a ideia de que a maior violência contra a mulher acontece dentro de casa - e não na rua. "Dentre as mulheres que já sofreram violência, 65% foram agredidas por seu próprio parceiro de relacionamento, ou seja, por marido, companheiro ou namorado" (http://www.senado.gov.br/senado/datasenado/pdf/datasenado/DataSenado-Pesquisa-Violencia_Domestica_contra_a_Mulher_2013.pdf).
Ou seja, a maior parte das agressões contra mulheres acontece em ambiente doméstico e por homens que livre acesso à intimidade dessas mulheres. Deste ponto de vista, a eliminação de barreiras à circulação só vem a colaborar para que a circulação das vítimas de violência doméstica seja livre, inclusive, para fugir das agressões e procurar ajuda.
Resumo da ópera: quanto menos barreiras, melhor!
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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