Autor do “Atlas das serpentes do Brasil”, o biólogo Cristiano Nogueira lança um alerta, cujos desdobramentos ultrapassam - e muito! - o campo da Zoologia.
Não sem razão, zoólogos liderados por Nogueira se preocupam sobremaneira com espécies de cobras ameaçadas de extinção, reivindicando condições adequadas para a
preservação das espécies. Porém, sociólogos, antropólogos urbanos e outros
hermeneutas das coletividades humanas também deveriam perder algumas
noites de sono com o prognóstico que se segue.
Em notícia publicada hoje no jornal O Globo online, Nogueira, que também lidera uma equipe do Museu de Zoologia da USP, esboça um prognóstico dramático para os ofídios no Brasil: "as cobras perderam 80% de seu território nos últimos 30 anos por conta do avanço da urbanização e da agropecuária", alerta o pesquisador (http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/cobras-perdem-habitat-se-tornam-mais-urbanas-15485896).
Uma consequência prática disso é que, "em dez anos, algumas delas podem até ser extintas. Outras se tornaram mais urbanas". Mas, como bem lembra o pesquisador, "o contato entre as serpentes e a população traz outro problema: a perseguição humana". Este fenômeno, claro, teria outro enfoque se os cientistas sociais passassem a interpretar todas essas mudanças recentes na rotina das populações das grandes cidades, notadamente, o impacto das cobras em ambientes de trabalho
Pois sabe aqueles problemas no trabalho por conta de conversa fiada de terceiros? As malfadadas crises de relacionamento em grupos antes mantidos por afinidade? Ou aquelas puxadas de tapete em relações comerciais, profissionais e afins? Pois é chegada a hora de levar os zoólogos à sério: o seu local de trabalho deve ter se tornado mais um serpentário urbano.
Fico por aqui, concluindo este sombrio prognóstico com um mote altamente preservacionista: proteja-se das serpentes, protegendo o seu habitat natural.
P.S. = Na dúvida, leve soro antiofídico no bolso. Mesmo se, para algumas dessas, não há soro antiofidífico que chegue.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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