Vejam só o que nossos quase-antípodas andam fazendo do outro lado mundo.
Notícia publicada hoje no jornal O Globo online relata experimento de pesquisadores chineses que decidiram, por meio de manipulação genética, alterar o DNA de embriões de macacos para torná-los autistas. O objetivo é conhecer os circuitos cerebrais responsáveis pelo transtorno, de modo a promover intervenções para mitiga-lo.
"Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas de Xangai, na China, injetaram nos animais um vírus contendo múltiplas cópias de MeCP2, gene que, quando duplicado, gera um transtorno de autismo. Esse gene não é a única causa conhecida para a síndrome, mas é uma das estudadas recentemente pelos cientistas chineses", relata a notícia.
Os cinco macacos geneticamente modificados acusaram mudança de comportamento padrão, uma vez que "andavam com frequência em círculos, gastavam menos tempo interagindo com os outros e mostraram sinais de ansiedade — todos indícios de transtorno de autismo".
Entusiasmado, Zilong Qiu, autor principal do estudo publicado na revista Nature desta semana, já faz planos para um futuro próximo: "Assim que soubermos quais circuitos cerebrais são os responsáveis por isso, poderemos começar a intervir nesses transtornos, usando, por exemplo, estimulação cerebral não invasiva ou terapia de gene (tratamento que consiste na substituição de genes defeituosos ou ausentes)", afirmou em uma coletiva à imprensa.
Contudo, membros da comunidade científica como o professor Huda Zoghbi, da Universidade Baylor de Medicina, recomendam cautela, já que "os genes modificados que não refletem exatamente os efeitos da versão humana da doença, tais como problemas cognitivos e convulsões". Some-se a isso o elevado custo de pesquisas dessa natureza, já que "criar um macaco na China, hoje, custa cerca de US$ 3 mil, e manter os custos de uma instalação para macacos costuma exigir entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão por ano." Ainda de acordo com a notícia, será necessário produzir centenas de macacos geneticamente modificados para distribuição em diversas instituições.
Enquanto isso, no Brasil, país onde as universidades e instituições públicas de pesquisa têm sentido a mão pesada dos cortes de orçamento promovidos pelo governo federal, a façanha da produção macacos transgênicos para estudo do autismo parece estar fora de cogitação, pelo menos por enquanto. Com as restrições orçamentárias impostas desde o ano passado, a saída mais viável será a produção de macacos autistas por método alternativo: ao invés de manipulação genética de alto custo, recomenda-se método alternativo mais em conta. Por que não munir cada cobaia com um smartphone com pacote de dados para acesso a Internet e fones de ouvido? Além de possibilitar ensaios clínicos em seres humanos, a receita é infalível para produzir toda uma geração de humanos autistas!
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário