UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Escapamentos assassinos

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Escapamentos assassinos

Já vão longe os dias em que Belo Horizonte era tachada de "cidade vergel", verdadeiro paraíso terrestre para a cura das doenças respiratórias. Estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a UFMG, joga pelo menos duas pás de cal nessa imagem: a primeira na memória de quem já conheceu essa nobre vocação da cidade; e a outra nas esperanças de quem um dia pretende rever esse cenário.

Segundo matéria publicada no Jornal Hoje em Dia Online, "pelo menos uma pessoa morre, diariamente, devido à poluição provocada pelos carros da cidade" e "mais de 900 são internadas com doenças respiratórias e cardiovasculares agravadas pela fumaça dos automóveis" (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/poluic-o-dos-veiculos-mata-uma-pessoa-por-dia-em-bh-1.267959). Para quem não sabe, as principais doenças agravadas pela poluição do ar são "infarto, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC), pneumonia, bronquite, asma e câncer de pulmão".

Para se ter uma ideia da catástrofe pulmonar, façamos um paralelo besta: em 2009, a taxa anual de homicídios no Canadá foi de 610 mortes (http://www40.statcan.ca/l02/cst01/Legal12a-fra.htm). Só em BH, e por causa da poluição gerada por veículos automotores, teremos algo próximo de 360 mortes só neste ano. Trocando em miudinhos: as mortes daqui, cuja população é de cerca de 2 milhões e 500 mil habitantes, equivalem a mais da metade das mortes de lá, um país de 31 milhões de cidadãos. Quase que minha calculadora tem uma parada respiratória!

E sabe o que é pior? A projeção de mortes por ano em BH está sendo subestimada, já que os dados do estudo da USP são baseados em amostragem coletada entre 2007 e 2008, quando a frota de veículos era menor do que a atual. " Três anos depois, cresceu 20% e já supera 1,3 milhão".

Já o outro lado da moeda - representado na matéria pelo vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), na pessoa do Sr. Guilherme Durães - se defende alegando que considera "ainda prematuro relacionar as mortes destas doenças com os poluentes emitidos pelos carros". Para tanto, seriam necessários "dados mais precisos", conforme a matéria.

Enquanto os "dados mais precisos" não dão as caras, a frota de automóveis cresce a passos largos na cidade, brotando que nem chuchu na cerca. Vai chegar o dia em que eu vou comprar, no lugar dos antigos saquinhos de leite (que eu nem bebo mais), uns saquinhos de oxigênio, vendidos aos litros também. Tenho certeza de que dona da padaria continuará me dando o troco em balas, só para garantir uma certa estabilidade ontológica ao meu dia-a-dia.

P.S. 1 = Obviamente, precisamos de mais verde, urgente!
P.S. 2 = Por um metrô rápido, abrangente e acessível já!

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