Quem tem medo de agulha aqui? Você?
Então você faz parte daquele seleto grupo que acreditaria que sua fobia estava com os dias contados ao ler o título de uma matéria da Folha Online de hoje: "Vacina para quem tem medo de agulha é lançada no Brasil" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/904646-vacina-para-quem-tem-medo-de-agulha-e-lancada-no-brasil.shtml).
É claro que era bom demais para ser verdade. O título não passa de uma ilusão sutilmente sugerida pela imaginação pouco reflexiva do jornalista responsável pela notícia. Senhoras e senhores: é com grande pesar que anuncio que não se trata, infelizmente, de uma vacina contra o medo de agulha. Nem tampouco se trata de uma vacina sem agulha. Mas o que promete então a Fabricante Sonafi Pasteur? Tão pura e simplesmente "uma vacina contra gripe com uma agulha dez vezes menor que a convencional". Só isso? É!
A promessa é no mínimo decepcionante. Como se não bastasse a ambiguidade que se esgueirou pelo título, a notícia ainda promete um falso alívio para quem tem fobia de agulha. É como se, guardadas as devidas proporções, alguém impusesse um cão menor para quem já morre de medo de cachorro. Na prática, tanto faz se o cachorro é grande ou pequeno, o cachorro-fóbico não quer nem saber: sai sapeteando diante do primeiro poodle toy que vê pela frente. O mesmo acontecerá com a agulha: até as de acupuntura assustam.
Propaganda enganosa no meio de uma notícia? A quem recorrer? Ao CONAR? Ao PROCON? A Comissão de Ética da Câmara dos Deputados? À imagem de Nossas Senhoras das Dores? Sei lá. Enquanto o marco regulatório das comunicações no Brasil se primar pela abstenção, matérias ambiguas como essa será dos males o menor! E tenho dito...
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Na ponta da agulha, uma ambiguidade.
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