UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Nu na vitrine!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Nu na vitrine!

Não sei se você, amigo leitor, é um deles. Pode até ser que seja. Aliás, pode até ser que EU também seja assim e nem perceba. Mas não vou mudar o rumo da prosa para esconder o que eu penso: nunca entendi muito bem porque as pessoas têm essa atração mórbida por contar coisas absolutamente banais nas redes sociais, do tipo Facebook, Orkut, Twitter e similares. Mas hoje foi a primeira vez em que li uma explicação plausível para o que chamarei aqui de "efeito vitrine".

O segredo para que as pessoas confiem tantos detalhes pessoais ou até íntimos naquela janelinha "diga o que vc está pensando agora" reside na capacidade de imersão vivida cada vez mais pelo Internauta. Segundo matéria da Folha Online, "uma das hipóteses para isso é que, quando se está na internet, perde-se um pouco a noção de tempo e espaço. O internauta fica em imersão, o que favorece uma condição quase de sonho"(http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/907408-usuarios-de-redes-sociais-exibem-ate-o-que-nao-querem-mostrar.shtml). O problema é que "nesse estado alterado de consciência, a censura e a autocrítica ficam rebaixadas".

Senão, vejamos três pequenos exemplos de ações irrefletidas, retiradas da vida real de amigos e de amigos de amigos - ações estas que podem ter consequências desastrosas para a vida social e profissional do seu autor.

Exemplo no. 1 : Dona Fulaninha, dona do Empreendimento Comercial X, posta, todos as semanas - infalivelmente - uma foto das suas unhas pintadas com a cor de esmalte da semana. Entre os contatos de Dona Fulaninha, como não podia deixar de ser, estão seus principais clientes. Tenho certeza de que Dona Fulaninha nem sequer pensa neles na hora de postar essas fotos, mas devia. De coração.

Exemplo no. 2 : Seu Ciclaninho é roubado em praça pública e lança impropérios contra o país onde mora. No auge do seu arroubo emocional, seu Ciclaninho perde a compostura e diz que quer mais é tirar vantagem daquele paiseco de merda e, com um pé na Jovem Guarda, deseja mesmo é "que tudo o mais vai para o inferno". Só que seu Fulaninho, que está procurando emprego, nem cogitou que seu ex-futuro-empregador pode ter decidido dar passada naquele dia. Com certeza, ele terá saído com uma péssima impressão da base moral de Seu Ciclaninho.

Exemplo no. 3: Seu Beltraninho adora postar frases de efeito, expressando suas posições políticas retrógradas nas redes (às vezes, em todas ao mesmo tempo). O problema é que, além de retrógrado, seu Beltraninho é daqueles que parece ter saltado a primeira série do ensino fundamental, principalmente aquela parte do treino ortográfico. Ele não hesita, por exemplo, em escrever "simplismente", "incherga" e "vc é legal di mais". Lamento informar, mas seu Beltraninho - que está solteiro e a procura de um par - acaba de decepcionar meio milhão de pretendentes letrados, seja pela escorregadela na forma, seja pelo vacilo no conteúdo de seus proferimentos.

É, camaradas! O caminho entre cérebro e os dedos teclantes parece estar se encurtando consideravelmente. Com isso, a gente topa cada vez mais com figuras que derramam coisas hiper-pessoais para contatos que até então só ficavam restritos aos meios profissinais ou acadêmicos.

Para concluir - que o assunto é longo e mereceria muitas twittadas - vou trazer um último dado citado pela matéria que, de tão bizarro e descontextualizado, vai servir de ponto de reflexão para a minha longa noite de sono. Segundo essa mesma matéria da Folha, "uma pesquisa feita no ano passado pela Oxygen Media e Lightspeed Research mostrou que 21% das mulheres entre 18 e 34 anos que estão nas redes se levantam à noite só para checar o Facebook". Pode? Em vez do tradicional pipi no meio da noite, uma espiadela no Facebook!

Céus! Onde é que vamos parar? Ainda vai chegar um dia em que uma pesquisa da Bananas University vai aparecer comprovando que recém-casados, na noite de núpcias, dão uma média de 12 twittadas entre um orgasmo e outro. Valha-me Deus! Credo em cruz! Toc, toc, toc na madeira! Marte, aí vou eu!

6 comentários:

  1. Ju!!! Este foi o melhor de todos até agora na minha opinião. Você é uma escritora fantástica. Realmente espero me casar (pela segunda vez, se é que eu vou ter coragem) antes desta época em que estaremos dando uma média de 12 twittadas entre um orgasmo e outro na noite de núpcias... hahahahah... só você mesmo! Assinado: Sua fã de carteirinha. Namastê... :]

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  2. E jovens tiveram crise de abstinência por ficarem UM dia sem usar as redes sociais e seus celulares.
    Talvez o contato ilusório seja uma defesa contra a perguntinha que não quer calar: 'Quem sou eu.'
    Triste.

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  3. Sylvinha, minha amada: casar é sempre bom, mas só se for em doses homeopáticas (isto é, não se case com vários ao mesmo tempo). Também espero que o dia (e a noite) das 12 twittadas esteja ainda bem longe ou que ela nunca chegue. Namastê procê e para o universo!

    Pris, sua doidivanas (mas não por isso menos amada): o mundo anda mesmo mudado! Enquanto nos contos de fadas, a cinderela virava abóbora antes das 12 badaladas, os Internautas com rasgos de dependência química viram pasta de chuchu se não derem suas 12 twittadas. E a perguntinha que não quer calar segue sem resposta - ou pior: sem tentativa de resposta.

    Bjs para as duas!

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  4. Ops! Permitam-me corrigir uma imprecisão: a cinderela virava abóbora com as 12 badaladas e não ANTES delas. Agora sou eu quem está virando pasta de chuchu! Olé, Namastê.

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  5. Copio a Sylvia Borges: 'Sua fã de carteirinha. Namastê... :]'

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