UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Bom para os olhos

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Bom para os olhos

Estamos a poucos dias do Carnaval, mas a histeria já se instalou há meses: no seu mundinho próprio, as celebridades já não sabem mais o que fazer para se sobressair umas às outras. Também, pudera: aparecer em público com pouca ou nenhuma roupa durante o caranaval tornou-se algo tão banal, mas tão banal, que quem quer que ouse vestir-se de freira recatada conseguirá atrair para si muito mais olhares curiosos do que se estivesse fantasiada de Eva tomando banho.

Com ares de cultura dominante, o afã pelos trajes sumários (ou simplesmente ausentes) durante o Carnaval nos faz muitas vezes esquecer que não há, em termos de vestimenta e de nudez, valor ou referência que passe no teste da universalidade.

Pois é esta lição dada pelos nossos antípodas que habitam o vilarejo de Okuizumo, na prefeitura de Shimane (oeste do Japão). Lá, os moradores " querem cobrir as partes íntimas de uma réplica da escultura de David de Michelangelo instalada em um parque público, alegando não ser conveniente para as crianças", revela notícia publicada hoje no jornal Hoje em Dia online (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/vilarejo-japones-quer-cobrir-partes-intimas-da-replica-de-david-1.87714).

Juntamente com a estátua da Vênu, a estátua de Davi foi doada por um empresário japonês. A alegação, materializada no depoimento de um funcionário da prefeitura daquela cidade, é a seguinte: "Estas estátuas representam pessoas nuas, um estilo artístico muito raro em nossa região. Algumas pessoas pensam que não é bom para nossos filhos", acrescentou.

Desta feita, a solução encontrada não deixa de nos fazer sorrir pelo grau de singeleza que ela comporta: segundo relato do jornal Yomiuri Shimbun, "alguns pais pediram que David seja coberto com um calção". 

Descobre aqui, cobre lá do outro lado do mundo! Mas antes que você, caro leitor, ria dos nossos antípodas, é de bom tom resgatar alguns fatos corriqueiros que nos garantam algum distanciamento crítico de nós mesmos.

Vale lembrar, por exemplo, que no ano de 1982 a banda Blitz teve a última faixa do seu disco de vinil, intitulado "De manhã", arranhada propositalmente pela censura instituída pelo regime militar daquela época. E nela, Evandro Mesquita não fazia mais do que cantarolar tão singelamente:

"Estava um dia lindo
E eu botei meu calção e fui nadar
Mas por que não, mas por que não, sem calção
Eu vou"

Pensando bem, o calção do Davi de Michelangelo é menos aberrante do que algumas cirurugias plásticas mal-sucedidas que teimam se expor aqui no Brasil, ao longo de todo o ano. 

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