UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Esfarrapadas

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Esfarrapadas

Atrasar? Sim. Atrasar. Mas quem é que nunca se atrasou?

Que atire a primeira pedra quem nunca chegou no trabalho com a depois do horário convencionado, com a cara toda amarratoda ou com os cabelos molhados de um banho recente. Os milhares de carros novos que são despejados, todos os dias, nas ruas das grandes metrópoles do país são constantemente lembrados na hora de comprovar que o trânsito caótico anda caótico. Mas nem o trânsito é capaz de tudo justificar. É preciso, então, lançar mão da imaginação para justificar a cara amarrotada ou os cabelos molhados.

Pois esta notícia publicada no jornal O Globo online cita justamente as piores desculpas de atrasos no trabalho que foram compiladas em estudo do site norte-americano CareerBuilder (http://oglobo.globo.com/emprego/as-mais-estranhas-desculpas-para-justificar-atrasos-ao-trabalho-7614842).

O arsenal é variado e mereceria certamente ser relido na íntegra e no original. Mas, de todas as desculpas transcritas, a campeoníssima da cara-de-pau fez amplo uso da imaginação literária digna dos contos de fada: "Uma funcionária disse ter se atrasado porque precisou voltar para colocar uma capa de chuva no pato de cerâmica que enfeita o jardim, já que o serviço de meteorologia previa chuva para mais tarde".


Com ou sem influência literária, as desculpas flertam com a Teoria da Conspiração, bem ao gosto de Umberto Eco: "Funcionário tentou cortar seu próprio cabelo antes do trabalho, mas o aparelho parou de funcionar. Então, ele teve que esperar até que a barbearia abrisse para ajeitar o cabelo". E quando tudo parece conspirar contra sua pontualidade, até a natureza dá seu jeitinho de atrapalhar: é o que sugere o caso de deste outro funcionário, que alegou ter tido o carro atacado por um urso. Detalhe: ele "levou provas fotográficas para comprovar".


Mas nenhuma dessas desculpas, por mais imaginativas que elas sejam, servirá para acobertar, amanhã, a real causa do presumível atraso do Presidente da Câmara dos Vereadores da Roça Grande, Léo Burguês. É que Burguês teve seu mandato de vereador cassado nesta 3a feira, em razão de acusações formais de abuso de poder político e econômico no mandato anterior (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/politica/juiz-eleitoral-cassa-mandato-do-presidente-da-camara-leo-burgues-1.92444).

Trocando em miúdos, o burguês (agora em minúscula) gastou com publicidade institucional em seis meses de mandato nada mais, nada menos do que R$ 2,78 milhões, isto é, "R$ 908 mil acima da média dos anos anteriores" (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1233436-justica-eleitoral-cassa-mandato-do-presidente-da-camara-de-bh.shtml). Moral da história: decisão em primeira instância decide pela cassação do seu segundo mandato e inegibilidade por mais oito anos. E, certamente, algumas noites mal-dormidas até que ele possa tentar reverter a decisão em segundo instância.

É para o digníssimo vereador cassado e ex-presidente da Câmara dos Vereadores que sugiro a leitura da notícia citada no início de deste comentário. E que ela lhe sirva de inspiração para desculpas melhores do que as que têm sido dadas aos eleitores da capital mineira.

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