UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Talentos cumulativos

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Talentos cumulativos

Todos os dias, morrem pessoas no mundo. Mas nem todos os dias morrem gênios, porque estes são escassos e estão irregularmente distribuídos pela superfície terrestre.

Alguns dos gênios levam a vida tão alheios aos holofotes, que a maior parte das pessoas nem sequer toma conhecimento da sua passagem por este mundo. Mas outros, como o pianista Van Cliburn - que faleceu hoje, aos 78 anos, em função de um câncer nos ossos - conseguem arrancar aplausos de admiradores inusitados e em situações das mais esdrúxulas (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1238030-morre-pianista-americano-que-conquistou-sovieticos-durante-guerra-fria.shtml).

A bem da verdade, Van Cliburn ficou famoso porque colecionava diversos talentos. No que tange ao talento musical, "Cliburn alcançou a fama ao ganhar com 23 anos a primeira edição da Competição Internacional Tchaikovsky de Piano em Moscou em 1958, seis meses depois do lançamento do Sputnik - o primeiro satélite artificial - que acendeu o pavio da batalha pelo espaço."

Em decorrência de seu talento musical, Cliburn desenvolveu um talento místico que o habilitou a ser reverenciado, simultaneamente, por Deus e o pelo Diabo, e isso tudo mesmo estando bem longe da terra do sol. "Apesar da tensão entre União Soviética e Estados Unidos, Cliburn se tornou uma figura querida para os russos ao ponto de o então líder soviético, Nikita Khrushchev, dar seu sinal verde para entregar-lhe o prêmio." 

Seu terceiro talento é de ordem diplomática e se beneficia das conquistas amealhadas pelos dois talentos anteriores, como revela a seguinte passagem: "Em 2003 recebeu das mãos do presidente George W. Bush a Medalha Presidencial da Liberdade, a máxima honra do país para um civil, e um ano depois obteve a Ordem da Amizade da Federação Russa, outorgada por Vladimir Putin."

Seu quarto e último talento - pasmem! - é bélico: Cliburn era capaz de metralhar os dedos nas teclas do piano, sem jamais ferir mortalmente alguém. O vídeo com o Concerto nº1 de Tchaikovsky, filmado em Moscou, em 1962, está lá para não me deixar mentir.

Diante de tantas evidências de talento, concluo que a estética pode até conhecer ideologia, mas a sensibilidade musical, esta subversiva, trai as rivalidades políticas e desafio os homens e as mulheres a exercerem, cumulativamente, todos os talentos: um após o outro, como contas de um colar.

No mais, vou ficando por aqui, deixando uma pequena amostra do gênio talentoso que uniu Deus e o Diabo na Terra da Vodka:


  Fonte: http://youtu.be/-M7M4UoqBpA


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