A famosa classe média - a antiga e a nova - não vêem a hora de acabar o verão. É que à medida que a Terra descreve sua trajetória elíptica em volta do sol, surgem os pacotes promocionais de viagens em baixa temporada.
Pois se você e seu cônjuje são da classe C e já se cansaram dos pacotes para Porto Seguro e Guarapari, talvez tenha chegado a hora de quebrar paradigmas e alçar vôos mais altos. "O empresário Dennis Tito anunciou que pretende lançar uma missão
tripulada a Marte já em 2018 e que, para tal, busca um casal muito bem
casado de astronautas, capaz de aguentar o isolamento dos 501 dias de
viagem de ida e volta até o Planeta Vermelho" (http://oglobo.globo.com/ciencia/milionario-busca-casal-para-viajar-ate-marte-7694673).
É fácil perceber, em algumas características do pacote turístico para Marte, que a classe C, este rentoso filão de mercado em vias de crescimento no Brasil, constitui o foco principal da estratégia de marketing de Tito: "O projeto vai aproveitar uma aproximação dos planetas, que permite fazer
a viagem da Terra a Marte em relativamente pouco tempo, cerca de 500
dias. Em outros períodos, quando os planetas se afastam, a viagem
duraria muito mais tempo, de dois a três anos, e seria muito mais cara".
Bem, como todo pacote, as opções já vem fechadas e costumizadas,
seguindo orientações do próprio empresário. Para inicio de conversa, ele
busca "tripulação [que] seja composta por um homem e uma mulher, de
preferência casados". Além disso, as datas da viagem já foram fixadas e
são inegociáveis, mesmo mediante previsões metereológicas
desfavoráveis: a missão, que "parte no dia 5 de janeiro de 2018 e chega a
Marte em 20 de
agosto do mesmo ano", tem retorno previsto para 21 de maio de 2019.
E
tem mais: "Não haveria pouso em Marte. A nave ficaria a algumas
centenas de
quilômetros de distância do planeta (algo como a distância da Terra à
Estação Espacial Internacional)". Ou seja, garotada: esta será uma
viagem sem nenhuma tarde livre para compras no shopping, sem passagem
pelo free-shop, em confins onde nem sequer uma mísera torneirinha de
filtro poderá ser comprada.
Mas
a pior parte do pacote consiste numa combinação arridcada entre longa
permanência e espaço exíguo, o que foi possivelmente pensado para
barateamento do seu custo total: "o maior desafio de Tito talvez seja
manter o casal unido depois de
501 dias de convívio tão próximo, num ambiente tão pequeno."
Evidentemente,
instalações mais exíguas e, por isso mesmo, mais econômicas, impedem a
viagem de obesos, claustrofóbicos e jogadores de basquete. Em
contrapartida, é favorecida a participação de casais de sardinha (que
não ligam de ficar espremidinhos), de contorcionistas (graças a suas
habilidades específicas) e de viúvos de ambos os sexos (já que estes
ocupam, sozinhos, o lugar que antes dois ocupariam).
No mais, Gerais. Quem quiser participar da promoção, é fácil: basta
casar-se e tornar-se astronauta a NASA até 2018. E manter-se na classe,
para aproveitar melhor as promoções.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
sexta-feira, 1 de março de 2013
Pacote para Marte
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